24.9.11

José Rentes de Carvalho (Os laços)






Eu julgara ter vindo com a intenção consciente de procurar os laços que unem o presente ao passado, de torná-los visíveis através de peripécias, de personagens, da visita de lugares.

Mas agora, vagueando pela praia – o Pardal tinha ido aos seus negócios e parecera-me mais acertado não estar presente – a visão romântica começara a desmoronar-se.

Com alguma preocupação dava-me conta de que os laços que julgava discernir, de facto existiam apenas na minha fantasia, no meu desejo de ordenar, colorir, de tornar num todo harmonioso o parcelamento caótico da realidade.

De juntar as estilhas e os cacos para com eles construir o meu relato e manter a ilusão de que a vida flui, quando ela na verdade é feita de retalhos e inquietações, de sobressaltos e cortes.


- J. RENTES DE CARVALHO, La Coca, Quetzal (2011), p. 74.

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