30.9.23

José Angel Cilleruelo (Uma estação sem ninguém)





Una estación sin nadie en los andenes,
un banco en la avenida y nadie cerca,
un almacén abandonado,
el tope de una vía muerta,
un autobús vacío,
un jardín solitario,
un tren sin luces,
la madrugada,
un hueco.
Yo.

 José Ángel Cilleruelo 

 

Uma estação sem ninguém no cais,
um banco na avenida e ninguém por perto,
um armazém abandonado,
um autocarro vazio,
um jardim solitário,
um comboio sem luzes,
a madrugada,
um buraco.
Eu.


(Trad. A.M.)

 .

29.9.23

Jorge Luis Borges (Limites)




LIMITES

  

Há uma linha de Verlaine que não voltarei a lembrar.
Há uma rua próxima que é vedada a meus passos,
há um espelho que me viu pela última vez,
há uma porta que eu cerrei até ao fim do mundo.
Entre os meus livros (estou a vê-los)
há alguns que jamais abrirei.
Este verão completo cinquenta anos,
a morte desgasta-me, incessante.
 

JORGE LUIS BORGES
El hacedor
(1960) 

(Trad. A.M.)

 

> Outra versão: Poesia dos dias uteis

 .


27.9.23

Nuno Dempster (Barbitúricos)




BARBITÚRICOS



O dia chega ao fim quando o sol se põe
para aqueles que apenas
vêem com claridade.

A alegria da noite é falsa
ou, se quiserem,
efémera, e o silêncio alastra
com desespero igual.

Nos dois lados da Terra,
em cada minuto
há corpos que se anulam.

A morte sem ruído é a mais digna,
ninguém dá pelo gesto
e suja menos.


Nuno Dempster

25.9.23

Jorge Boccanera (Ensaio breve)

 



 ENSAYO BREVE SOBRE 
  LA HONESTIDAD POÉTICA


no es que los poetas mientan 
es que los mentirosos 
quieren hacer poesía

Jorge Boccanera

[Pagina de poesia]

 .

24.9.23

Joaquín Giannuzi (Velha foto de família)




VIEJA FOTOGRAFIA DE FAMILIA 

 

La muerte miró la escena por el rápido agujero
cuando ellos congelaron su estirpe de comediantes:
un momento absolutamente sensorial
bajo la luz de un presente instantáneo.
A partir de aquella carnal expectativa
simularon impunidad de tiempo no recibido,
primera distancia paralizada, fraude de eternidad
y el astuto poder de lo virtual
en la mente vaciada por el orificio del ojo.
l conjunto fue perdiendo peso, integridad,
energía personal, universo continuo.
Llovió en el fondo de la imagen
y se instaló una tarde progresiva en el desastre.
Entonces reinó el frío error de lo mecánico.
Ellos anhelaron memoria y sentido
desde el bulto brumoso del ser,
fisiológicos, brutales, marrones:
pero la amnesia general de la materia
desvaneció a los abuelos, disolvió
la consistencia del vínculo
entre sangres de un mismo incendio
y vestimentas anegadas por la degradación de sí mismas.
La vida reclamaba espesuras hacia todas direcciones,
mutaciones compactas, alaridos, volúmenes llameantes.
Y está visto que dos dimensiones bastaron
a esta muerte de cartón.

 
Joaquín Giannuzi 

 

A morte olhou a cena pelo buraco rápido
quando eles congelaram sua estirpe de comediantes,
um momento absolutamente sensorial
sob a luz de um presente instantâneo.
A partir dessa carnal expectativa
simularam impunidade de tempo não recebido,
primeira distância paralisada, fraude de eternidade
e o astuto poder do virtual
na mente esvaziada pelo orifício do olho.
O conjunto foi perdendo peso, integridade,
energia, universo contínuo.
Choveu no fundo da imagem
e uma tarde progressiva instalou-se no desastre.
Reinou então o frio erro do mecânico.
Eles cobraram memória e sentido
lá desde o perfil nevoento do ser,
fisiológicos, brutais, castanhos,
mas a amnésia geral da matéria
desvaneceu os avós, dissolveu
a consistência do vínculo
entre sangues de um mesmo incêndio
e véstias  alagadas pela degradação de si mesmas.
A vida reclamava espessura em todas as direcções,
mutações compactas, alaridos,
volumes flamejantes.
E está visto que duas dimensões bastaram
para esta morte de cartão.

 
(Trad. A.M.)


.

22.9.23

João de Mancelos (São agora tão frágeis)




são agora tão frágeis, os nomes 
das raparigas que, em tempos,
eram a estrela e o milagre.

elegias a deus nenhum,
santuários de amor abandonados,
no sangue seco do tempo. 

reduziram-se a meros acidentes,
no silêncio perfeito
que a memória deita a meu lado. 

e, porém, esses nomes ardem
ainda no país longínquo da noite
e, sílaba a sílaba, queimam o meu sono. 

 

JOÃO DE MANCELOS
A Sombra de um Homem Só
- Poemas seleccionados
Lisboa (Colibri), 2022

 .

20.9.23

Joan Margarit (A moça do semáforo)

 



LA CHICA DEL SEMÁFORO 

 

Tienes la misma edad que yo tenía
cuando empezaba a soñar en encontrarte.
No sabía aún, igual que tú
no lo has aprendido aún, que algún día
el amor es esta arma cargada
de soledad y de melancolía
que ahora te está apuntando desde mis ojos.
Tú eres la muchacha que yo estuve buscando
durante tanto tiempo cuando aún no existías.
Y yo soy aquel hombre hacia el cual
querrás un día dirigir tus pasos.
Pero estaré entonces tan lejos de ti
como ahora tú de mí en este semáforo.
 

Joan Margarit 

[Sureando

 

 

Tens a mesma idade que eu tinha
quando comecei a sonhar encontrar-te
Não sabia ainda, tal como tu
ainda não sabes, que um dia
o amor é esta arma carregada
de melancolia e solidão
que meus olhos te estão a apontar agora.
Tu és a rapariga que eu andei buscando
tanto tempo quando ainda não existias.
E eu sou esse homem para quem um dia
quererás encaminhar teus passos.
Mas estarei então tão longe de ti
como agora tu estás de mim neste semáforo.
 

(Trad. A.M.)

 .

19.9.23

Jesús Beades (Elegia e oração)




ELEGÍA Y PLEGARIA POR HILARIO CAMACHO


La muerte es una música al revés, 
un desdecir el mundo hasta quedarse sordo, 
un reloj que no dice la verdad, un mástil roto 
de guitarra que espera 
con herrumbrosas cuerdas en una casa sola. 
Esta mañana calla la oficina. 
Están callados todos los autobuses agrios. 
En la Plaza Mayor se calla hasta el oxígeno 
mientras los hospitales se despintan de azul. 
Y los acordeones invisibles 
que habitan las esquinas, están callando a gritos. 
Y, sin embargo, tienen que ir a clase, 
con sus cuerpos de ola, las muchachas, 
tiene que abrirse un bar, abrirse un libro, 
tienen que irse abriendo los claveles 
poco a poco, sin prisa, ir afinando, 
pues Madrid amanece. 
Atónito y disperso, pido al Cielo 
que tengas veinte años para siempre. 
Que escuches la canción secreta que Dios hizo 
y que lleva tu nombre.

Jesús Beades

 


A morte é uma música ao contrário,
um desdizer do mundo até ficar surdo,
um relógio que não diz a verdade,
um braço partido de guitarra que espera
com cordas ferrugentas numa casa só.
Esta manhã o serviço em silêncio.
Silenciosos todos os autocarros azedos.
Na Praça Maior em silêncio até o oxigénio,
enquanto os hospitais se despintam de azul.
E os acordeões invisíveis
que habitam as esquinas, calam-se aos gritos.
E contudo, têm de ir para as aulas,
as raparigas, com seus corpos de onda,
tem de abrir-se um bar, abrir-se um livro,
têm de ir abrindo os cravos
pouco a pouco, sem pressa, ir afinando,
pois Madrid amanhece.
Atónito e distraído, peço ao Céu
que tenhas sempre vinte anos.
Que escutes a canção secreta que Deus fez
e que tem o teu nome.


(Trad. A.M.)

.

16.9.23

Cesário Verde (Lúbrica)





LÚBRICA

 

Mandaste-me dizer, 
No teu bilhete ardente, 
Que hás de por mim morrer, 
Morrer muito contente.  

Lançaste, no papel 
As mais lascivas frases; 
A carta era um painel 
De cenas de rapazes!  

Ó cálida mulher, 
Teus dedos delicados 
Traçaram do prazer 
Os quadros depravados!  

Contudo, um teu olhar 
É muito mais fogoso, 
Que a febre epistolar 
Do teu bilhete ansioso:  

Do teu rostinho oval 
Os olhos tão nefandos 
Traduzem menos mal 
Os vícios execrandos. 

Teus olhos sensuais, 
Libidinosa Marta, 
Teus olhos dizem mais 
Que a tua própria carta.  

As grandes comoções 
Tu neles, sempre, espelhas; 
São lúbricas paixões 
As vívidas centelhas...  

Teus olhos imorais, 
Mulher, que me dissecas, 
Teus olhos dizem mais 
Que muitas bibliotecas! 
 

Cesário Verde

 .

15.9.23

Javier Salvago (Se caíres)




SE CAÍRES



Se caíres, levanta-te! - Porque me devo 
levantar?…Porque é que não posso 
ficar aqui sentado, enquanto penso 
e medito em que pedra tropecei?
A primeira coisa é parar e compreender
a razão ou o motivo de tropeçar:
corria demais, ia a direito
ou dando voltas e tropeções?
Sim, a vida é uma corrida
e deixa sem piedade na berma
quem fraqueja ou perde o passo.
Mas qual é a pressa, se não sabemos
para onde vamos nem porque corremos?
Se caíste, pensa nisso sentado.

Javier Salvago

(Trad. A.M.)

 .

14.9.23

Javier Egea (O que eu possa contar-vos)





Lo que pueda contaros
es todo lo que sé desde el dolor
y eso nunca se inventa.

Porque llegar aquí fue una larga sentina,
un extraño viaje,
una curva de sangre sobre el río,
mientras todo era un grito
y ya se perfilaba resuelto en latigazos
el crepúsculo.

Las historias se cuentan con los ojos del frío
y algún sabor a sal y paso a paso
─lengua y camino─
porque la sangre se nos va despacio,
sin borbotón apenas,
desmadejadamente por los labios.

Las historias se cuentan una vez y se pierden.

Javier Egea

[Trianarts]

 

O que eu possa contar-vos
é aquilo que sei visto da dor
e isso não se inventa.

Porque chegar aqui foi um longo caminho,
uma estranha viagem,
uma curva de sangue no rio,
enquanto o resto tudo era um grito
e o crepúsculo se perfilava em chicotadas.

As histórias contam-se com os olhos do frio
e um certo sabor a sal e passo a passo
- língua e caminho -
porque o sangue escapa-nos
dos lábios molemente,
devagar, quase sem borbotar.

As histórias contam-se uma vez, depois perdem-se.

 

(Trad. A.M.)

 

12.9.23

Carlos de Oliveira (Elegia da Ereira)




ELEGIA DA EREIRA



À luz
deste azeite estelar
a que chamam luar
e que é apenas o fulgor
da cal a evaporar-se
com os ossos humanos,
são as aves
o menos que choramos.

Lágrimas desprendidas
dum olhar terrestre
que a loucura escurece,
lá vamos nós,
lá somos, mestre,
aquelas sombras flutuando no luar.

E no entanto a terra,
esse magoado coração do espaço,
chama ainda por nós.

Que lhe diremos, mestre,
tão pobres e tão sós?


Carlos de Oliveira

.

10.9.23

Javier Cánaves (Há mulheres que nunca)




HAY MUJERES QUE NUNCA

 

Hay mujeres que nunca serán mías,
que nunca escucharán a Goytisolo,
con mi voz en su oído, mientras fuman
lentamente, los pechos sin cubrir.

Hay mujeres que nunca esperarán
bajo la lluvia, en una calle sórdida
con gatos vagabundos, a que vuelva
con ramos de alegría y un abrazo.

Hay mujeres que nunca me verán
cantar de madrugada algún bolero,
tentar la dicha fácil en un lance
suicida contra el mundo y sus horarios.

Por eso te repito, vida mía,
la suerte que has tenido al encontrarme,
tu sabia decisión de estar conmigo.


Javier Cánaves

 

 

Há mulheres que nunca serão minhas,
que nunca ouvirão Goytisolo,
com minha voz no ouvido, a fumar
lentamente, os peitos a descoberto.

Há mulheres que nunca esperarão
à chuva, numa rua sórdida
com gatos vadios, que eu volte
com ramos de alegria e um abraço.

Há mulheres que nunca me verão
cantar um bolero de madrugada,
ou tentar a fortuna num lance suicida
contra o mundo e seus horários.

Por isso te repito, vida minha,
a sorte que tiveste em me encontrar,
e a tua sábia decisão de ficar sempre comigo.


(Trad. A.M.)

.

9.9.23

Jaime Sabines (Aquela é a sua janela)




Esa es su ventana.
Allí la espera el tiempo.
Tras el cristal su rostro
invisible, en silencio.
Me mira, ciega y dulce,
con los ojos abiertos.
La noche está a mi lado,
su ventana está lejos.
Alguien la busca a veces
vestida de negro,
joven madre del luto,
flor del viento.
Sus manos rezan
sobre su pecho.
Y ella, niña, me mira
con sus ojos viejos.
Y yo la busco
dulce, muerto.

Jaime Sabines

[Trianarts

 

Aquela é a sua janela,
ali mesmo a espera o tempo.
Por trás da vidraça seu rosto
invisível, em silêncio.
Olha para mim, cega e doce,
com os olhos abertos.
A noite está a meu lado,
a janela está longe.
Alguém a procura às vezes
vestida de negro,
mãe jovem do luto,
rosa do vento.
Suas mãos rezam,
postas no peito.
E ela, menina, olha para mim
com seus olhos velhos.
E eu a busco
doce, já morto.


(Trad. A.M.)


7.9.23

Margaret Atwood (Esta é uma foto minha)




THIS IS A PHOTOGRAPH OF ME

 

 

It was taken some time ago.
At first it seems to be
a smeared
print: blurred lines and grey flecks
blended with the paper;
 

then, as you scan
it, you see in the left-hand corner
a thing that is like a branch: part of a tree
(balsam or spruce) emerging
and, to the right, halfway up
what ought to be a gentle
slope, a small frame house.
 

In the background there is a lake,
and beyond that, some low hills.
 

(The photograph was taken
the day after I drowned.
 

I am in the lake, in the center
of the picture, just under the surface.

It is difficult to say where
precisely, or to say
how large or small I am:
the effect of water
on light is a distortion
 

but if you look long enough,
eventually
you will be able to see me.)
 

Margaret Atwood

[Poets]

 

Foi tirada há algum tempo.
Ao princípio parece ser
uma impressão
manchada: linhas esborratadas e nódoas cinzentas
misturadas com o papel; 

Depois, quando se olha bem,
vemos no canto esquerdo
uma coisa como um ramo: parte de uma árvore
(abeto balsâmico ou espruce) a emergir
e, para a direita, a meio
do que devia ser uma ladeira
suave, uma pequena casa pré-fabricada. 

Ao fundo há um lago 
e, para além dele, alguns pequenos montes. 

(A fotografia foi tirada
no dia seguinte a ter-me afogado. 

Eu estou no lago, a meio
da imagem, pouco abaixo da superfície.

É difícil dizer onde
exactamente ou indicar
o meu tamanho:
a água na luz 
causa distorção 

mas, se olharem o tempo suficiente,
acabarão 
por me ver.)
 

(por fjcc)

 .

5.9.23

Jaime Gil de Biedma (Paris, postal do céu)


 



PARÍS, POSTAL DEL CIELO 

 

Ahora, voy a contaros
cómo también yo estuve en París, y fui dichoso. 

Era en los buenos años de mi juventud,
los años de abundancia
del corazón, cuando dejar atrás padres y patria
es sentirse más libre para siempre, y fue
en verano, aquel verano
de la huelga y las primeras canciones de Brassens,
y de la hermosa historia
de casi amor. 

Aún vive en mi memoria aquella noche,
recién llegado. Todavía contemplo,
bajo el Pont Saint Michel, de la mano, en silencio,
la gran luna de agosto suspensa entre las torres
de Notre-Dame, y azul
de un imposible el río tantas veces soñado
-It's too romantic, como tú me dijiste
al retirar los labios. 

¿En qué sitio perdido
de tu país, en qué rincón de Norteamérica
y en el cuarto de quién, a las horas más feas,
cuando sueñes morir no te importa en qué brazos,
te llegará, lo mismo
que ahora a mí me llega, ese calor de gentes
y la luz de aquel cielo rumoroso
tranquilo, sobre el Sena? 

Como sueño vivido hace ya mucho tiempo,
como aquella canción
de entonces, así vuelve al corazón,
en un instante, en una intensidad, la historia
de nuestro amor,
confundiendo los días y sus noches,
los momentos felices,
los reproches

y aquel viaje -camino de la cama-
en un vagón del Metro Étoile-Nation.
 

JAIME GIL DE BIEDMA
 Las personas del verbo
Seix Barral, Barcelona
(2000)
                       

 

Agora, vou contar-vos
como também eu estive em Paris
e como ali fui feliz. 

Era nos anos dourados da juventude,
anos de abundância
do coração, quando deixar para trás
pais e pátria é sentir-se mais livre para sempre,
e foi no Verão, nesse Verão
da greve e das primeiras canções de Brassens,
e dessa linda história
de quase amor. 

Tenho ainda na memória essa noite,
recém-chegado. Estou vendo, à mão,
por baixo da ponte Saint Michel,
a grande lua de Agosto, em silêncio, suspensa
entre as torres de Notre Dame, e azul
impossível o rio tantas vezes sonhado
- It's roo romantic, como tu disseste
ao tirar os lábios. 

Em que perdido
lugar do teu país, em que recanto da América
e no quarto de quem, nas horas mais feias,
quando sonhares morrer não te importa em que braços,
onde te chegará, tal como a mim
agora me chega, aquele calor humano
e a luz desse céu rumoroso
tranquilo, sobre o Sena? 

Como sonho vivido há já muito tempo,
como aquela canção
de então, assim torna ao coração,
num instante, muito intensa,
a história do nosso amor,
confundindo os dias e suas noites,
os momentos felizes,
as queixas 

e aquela viagem - a caminho da cama -
numa carruagem do metro Etoile-Nation.
 

(Trad. A.M.)

 .

4.9.23

Jesús Aguado (Dois)



(DOS)


Hija,
por el Mar o la Tierra,
de Día o de Noche,
con Calor o con Frío,
Dentro o Afuera,

desde el Silencio o la Palabra, 

pisa
con
cuidado

porque te pisas a ti misma. 

Hija,
no lo olvides. 

Jesús Aguado 

 

Filha,
por Mar ou Terra,
de Dia ou Noite,
com Calor ou Frio,
Dentro ou Fora,

do Silêncio ou da Palavra,

pisa
com
cuidado

porque te pisas a ti mesma.

Filha,
não esqueças.


(Trad. A.M.)

.

2.9.23

W. B. Yeats (Um aviador irlandês)




AN IRISH AIRMAN FORSEES HIS DEATH

 

I know that I shall meet my fate
Somewhere among the clouds above;
Those that I fight I do not hate,
Those that I guard I do not love;
My country is Kiltartan Cross,
My countrymen Kiltartan’s poor,
No likely end could bring them loss
Or leave them happier than before.
Nor law, nor duty bade me fight,
Nor public men, nor cheering crowds,
A lonely impulse of delight
Drove to this tumult in the clouds;
I balanced all, brought all to mind,
The years to come seemed waste of breath,
A waste of breath the years behind
In balance with this life, this death.

William Butler Yeats



Sei que hei-de encontrar meu destino
algures lá no alto por entre as nuvens.
Os que combato não os odeio,
os que defendo não os amo.
A minha terra é Kiltartan Cross,
os pobres de Kiltartan meus patrícios,
nada no fim mudará decerto para eles,
não ficarão mais pobres nem serão mais felizes.
Nem lei nem dever me fizeram lutar,
nem tão pouco os políticos ou multidões.
Um impulso solitário de gozo
é que me trouxe a este tumulto nas nuvens,
eu ponderei tudo, pensei em tudo,
e o porvir pareceu-me um desperdício,
assim como um desperdício o passado,
comparado com esta vida, com esta morte.

(Trad. A.M.)

 .