30.10.19

Susana March (Amor)





AMOR


Me dolerás todavía muchas veces.
Iré apartando sueños
y tú estarás al fondo de todos mis paisajes.
Tú con tu misterio y tu extraña victoria.

Amor, ¿quién te ha dado esa fuerza de pájaro,
esa libre arrogancia
de mirar las estrellas por encima del hombro?
¿Quién eres que destruyes
mi corazón y puedo, sin embargo, existir?
¿Se vive en la muerte? … ¿Se vive
con el alma en desorden y la carne
desmoronándose en el vacío?

Nunca te tuve miedo
y, sin embargo, ahora te rehuyo
porque eres como un dios que me hace daño
cada vez que me mira.

Abandonaré todo lo que me estorba,
todo lo que dificulta la huida
y escaparé por la noche adelante,
temerosa de ti, temerosa
de esta grandeza que intuyo,
de este fulgor, de este cielo
que palpita en tus manos abiertas.
Me dolerás muchas veces
y cada vez me extasiaré  en mi daño.


Susana March





Vais doer-me ainda muitas vezes.
Eu irei separando sonhos
e tu estarás no fundo das minhas paisagens,
tu com teu mistério, tua estranha vitória.

Quem te deu, amor, essa força de pássaro,
essa livre arrogância
de contemplar as estrelas por cima do ombro?
Quem és tu, que me desfazes o coração,
podendo eu todavia existir?
Será que se vive na morte? Vive-se
com a alma em desordem e a carne
a desmoronar-se no vazio?

Nunca tive medo
e, não obstante, agora fujo de ti
por seres como um deus que me faz mal
de cada vez que me olha.

Tudo o que me tolhe deixarei,
tudo o que me estorva a fuga,
e escaparei pela noite fora,
temerosa de ti, temerosa
desta grandeza que intuo,
deste fulgor, deste céu
que te palpita nas mãos abertas.
Vais doer-me ainda muitas vezes
e de cada vez hei-de extasiar-me com meu mal.

(Trad. A.M.)


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29.10.19

Susana Benet (Névoa)




NIEBLA


Llegan las sombras.
El jardín se ha apagado en un instante.
Inmóviles las hojas en sus ramas
se sumergen en la extraña quietud
de los troncos dormidos, en el súbito
silencio de las aves. Tiene el aire
color de despedida, nada suena
ni tiembla ni se ondula, todo flota
en la bruma estancada del ocaso.
No hay luz en las ventanas ni una voz
que traspase la grávida penumbra.
Hay figuras que avanzan y se pierden
en la niebla. Hay muertos que caminan.


Susana Benet




Chegam as sombras
e o jardim apaga-se num instante.
As folhas imóveis nos ramos
mergulham na estranha quietude
dos troncos adormecidos, no súbito 
silêncio das aves. Tinge o ar
a cor da despedida, nada soa
nem estremece, nem ondula, tudo bóia
na bruma estancada do ocaso.
Não há luz nas janelas, nem uma voz
que trespasse a grávida penumbra.
Há figuras que avançam e se perdem
na névoa. Há mortos que caminham.


(Trad. A.M.)

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27.10.19

Antonio Cicero (O fim da vida)





O FIM DA VIDA



Conhece da humana lida
a sorte:
o único fim da vida
é a morte
e não há, depois da morte
mais nada.
Eis o que torna esta vida
sagrada:
ela é tudo e o resto, nada.


Antonio Cicero

[Acontecimentos]

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25.10.19

Raúl Gustavo Aguirre (És, agora és)





Eres, ahora eres, nostalgia de lo ido,
ausencia de la ausencia, olvido del olvido.
Te busco en otros seres: eres, ahora eres,
aquello que no eres.

¿Te he de encontrar un día? No hay día por delante.
Sólo esta noche, con el agravante
de la continuidad en la pregunta.

Estamos atrapados. La eternidad se agota.
La recta infinitud está doblada y rota.
Eres, ahora eres, toda la nada junta.


Raúl Gustavo Aguirre




És, agora és, saudade do já vivido,
ausência da ausência, olvido do olvido.
Busco-te em outros seres: és, agora és,
aquilo que já não és.

Encontrar-te-ei algum dia? Não há dia por diante,
só esta noite, com a agravante
de se repetir a pergunta.

Estamos apanhados. A eternidade esgotada.
A recta infinitude rompida e rasgada.
És, agora és, nada vezes nada.

(Trad. A.M.)

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24.10.19

Carlos Salem (Testamento de dúvidas)





TESTAMENTO DE DUDAS



¿Que será de estos textos míos, tan ajenos,
el día que ya no esté para nombrarlos?
¿Quién recogerá del suelo los versos
cuando se deshoje el tiempo que me toca?

¿Calcularán mis descendientes unos improbables beneficios,
o negarán toda relación con este trilero de poemas
que sólo quiso meter la mano y la palabra bajo las faldas de la vida?
(y alguna vez lo hizo)

¿Disputarán mis amantes la provocación de una estrofa,
olvidando que amar es repetirse a uno mismo?
¿Organizarán un congreso de despechos y perdones
con los pechos al aire y las copas y las piernas en alto?
¿Lamentarán haber entregado sus favores a un autor
más preocupado del misterio de unas ingles
que del devenir de los mercados?

Por suerte no lo sabré. Por eso escribo. Por eso amo.
   (...)

Carlos Salem

[El huevo izquierdo]





O que será destes meus escritos, tão alheios,
no dia em que eu já cá não esteja para os nomear?
Quem apanhará do chão os versos
quando se desfolhar o tempo que me cabe?

Farão contas meus herdeiros de alguns improváveis benefícios,
ou negarão qualquer relação com este batoteiro de poemas
que quis só meter a mão e a palavra por baixo das saias da vida
(e conseguiu às vezes)?

Disputarão meus amores a provocação de uma estrofe,
esquecendo que amar não é mais do que repetir-se a si mesmo?
Organizarão um congresso de despeitas e perdões
com o peito ao vento e copos e pernas ao alto?
Lamentarão ter concedido seus favores a um autor
mais interessado no mistério de certas virilhas
do que no futuro dos mercados?

Não chegarei a sabê-lo, felizmente.
Por isso escrevo.
Por isso amo.

(Trad. A.M.)

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22.10.19

Gil T. Sousa (Aguarela)





AGUARELA



a beleza da árvore
que finge seguir o vento
quando ele passa

e os muros caiados
que guardam o sol
para quando nos falta

a água fresca
a respiração da janela larga
sobre o campo

e este caminho
que cresce tanto
até ser estrada

as mãos ainda abertas
para os frutos
e para as flores

os pássaros e o mundo
o tempo a rasgar-se
no corpo

no meu, no teu corpo


Gil T. Sousa

[Canal de poesia]

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21.10.19

Silvina Ocampo (Pressentimento)





PRESENTIMIENTO



Durante muchos días me seguiste.
En el canto del pájaro, en las sombras,
en las modulaciones del espacio:
aprendí a conocerte.
Yo sentía tu luz atravesarme
como una flecha de oro envenenada.
Te desobedecía arrepentida.
Me hablabas en secreto.
En los espejos rotos, en la tinta
azul de los cuadernos que dejabas
sobre la mesa de mi dormitorio.
Yo temblaba al mirarte, yo temblaba
como tiemblan las ramas reflejadas
en el agua movida por el viento.
Ahora que conozco tus señales,
tu piel y tus orejas, tu semblante,
no trataré de desobedecerte,
y me arrodillaré frente a tu imagen,
implacable sibila que me sigues.


Silvina Ocampo




Durante muitos dias me seguiste.
No canto do pássaro, nas sombras,
nas modulações do espaço:
aprendi a conhecer-te.
Sentia a tua luz a trespassar-me
como uma flecha de ouro envenenada.
Desobedecia-te contrafeita.
Murmuravas-me em segredo.
Nos espelhos quebrados, na tinta
azul dos cadernos que deixavas
sobre a mesa do meu quarto.
Estremecia ao ver-te, estremecia
como estremecem os galhos reflectidos
na água movida pelo vento.
Agora que conheço os teus sinais,
tua pele, tuas orelhas, teu semblante,
não intentarei desobedecer-te,
e venerarei a tua imagem,
implacável sibila que me segues.


(Trad. J.E.Simões)

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19.10.19

Rosario Castellanos (Agonia além do muro)





AGONIA FUERA DEL MURO



Miro las herramientas,
el mundo que los hombres hacen, donde se afanan,
sudan, paren, cohabitan.

El cuerpo de los hombres, prensado por los días,
su noche de ronquido y de zarpazo
y las encrucijadas en que se reconocen.

Hay ceguera y el hambre los alumbra
y la necesidad, más dura que metales.

Sin orgullo (¿qué es el orgullo? ¿Una vértebra
que todavía la especie no produce?)
los hombres roban, mienten,
como animal de presa olfatean,
devoran y disputan a otro la carroña.

Y cuando bailan, cuando se deslizan
o cuando burlan una ley o cuando
se envilecen, sonríen,
entornan levemente los párpados, contemplan
el vacío que se abre en sus entrañas
y se entregan a un éxtasis vegetal, inhumano.

Yo soy de alguna orilla, de otra parte,
soy de los que no saben ni arrebatar ni dar,
gente a quien compartir es imposible.

No te acerques a mí, hombre que haces el mundo,
déjame, no es preciso que me mates.
Yo soy de los que mueren solos, de los que mueren
de algo peor que vergüenza.

Yo muero de mirarte y no entender.


Rosario Castellanos

[Emma Gunst]




Olho as ferramentas,
o mundo que os homens fazem, em que se empenham,
suam, parem, coabitam.

O corpo dos homens, esmagado pelos dias,
sua noite de ronco e patada
e as encruzilhadas em que se reconhecem.

Há cegueira e a fome ilumina-os
e a necessidade, mais dura do que metal.

Sem orgulho (orgulho o que é? uma vértebra
que a espécie ainda não produz?)
os homens roubam, mentem,
farejam como predadores,
devoram e disputam ao outro a carniça.

E quando bailam, ou escorregam
ou fintam a lei, ou quando
se fazem ruins, sorriem,
abrem os olhos levemente, contemplam
o vazio a abrir-se-lhes nas entranhas
e dão-se a um êxtase vegetal, inumano.

Eu sou de alguma beira, de outra parte,
sou dos que não sabem dar nem tomar,
para quem partilhar não é possível.

Não te chegues a mim, homem que fazes o mundo,
deixa-me, não é preciso matares-me.
Eu sou daqueles que morrem sozinhos,
de algo pior que a vergonha.

Eu morro de te olhar e não entender.


(Trad. A.M.)

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17.10.19

Fernando Pessoa (Dai-me rosas e lírios)





Dai-me rosas e lírios,
Dai-me flores, muitas flores
Quaisquer flores, logo que sejam muitas...
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas
Em me dardes muitas flores,
Nem isso... Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
Que me deis flores...
Sejam essas as flores que me deis...

Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio,
Sob o céu cheio de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança
Com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa,
E a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
Estando eu a chorar naquela posição.

O homem que apara o lápis à janela do escritório
Chama pela minha atenção com as mãos do seu gesto banal.
Haver lápis e aparar lápis e gente que os apara à janela, é tão estranho!
É tão fantástico que estas coisas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dor de cabeça.

A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelecendo)
Caída no chão...
Qual é o sentido da vida?


Fernando Pessoa

[Arquivo Pessoa]

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16.10.19

Roque Dalton (Altas horas da noite)





ALTA HORA DE LA NOCHE



Cuando sepas que he muerto no pronuncies mi nombre
porque se detendrá la muerte y el reposo.

Tu voz, que es la campana de los cinco sentidos,
sería el tenue faro buscado por mi niebla.

Cuando sepas que he muerto di sílabas extrañas.
Pronuncia flor, abeja, lágrima, pan, tormenta.

No dejes que tus labios hallen mis once letras.
Tengo sueño, he amado, he ganado el silencio.

No pronuncies mi nombre cuando sepas que he muerto
desde la oscura tierra vendría por tu voz.

No pronuncies mi nombre, no pronuncies mi nombre,
cuando sepas que he muerto no pronuncies mi nombre.


Roque Dalton

[Desde la ciudad sin cines]




Quando souberes que morri não digas o meu nome
porque a morte se deterá e o repouso.

Tua voz, campainha dos cinco sentidos,
ténue farol buscado por minha névoa.

Quando souberes que morri, diz sílabas estranhas,
diz flor, abelha, lágrima, tormenta, pão.

Não deixes os lábios acharem minhas onze letras,
tenho sono, amei, ganhei direito ao silêncio.

Não digas o meu nome, não digas o meu nome,
quando souberes que morri não digas o meu nome.


(Trad. A.M.)

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14.10.19

Roger Wolfe (A invenção)





EL INVENTO



Organizas las palabras, las pones
una encima de otra, una debajo de otra,
una detrás de otra, como en una desenfrenada orgía
en la que por fin fornicas con quien quieres.
Por un momento tienes
al mundo por el cuello. Por un
momento. Es maravilloso.
Éste es el invento.
El invento.


Roger Wolfe




Organizas as palavras, põe-las
uma por cima de outra, uma por baixo de outra,
uma por trás de outra, como orgia desenfreada
em que por fim fornicas com quem queres.
Por um momento tens
o mundo pelo galete. Por
um momento. É maravilhoso.
Esta é a invenção.
A invenção.


(Trad. A.M.)

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13.10.19

Margaret Atwood (Noite alta)




LATE NIGHT



Late night and rain wakes me, a downpour,
wind thrashing in the leaves, huge
ears, huge feathers,
like some chased animal, a giant
dog or wild boar. Thunder & shivering
windows; from the tin roof
the rush of water.

I lie askew under the net,
tangled in damp cloth, salt in my hair.
When this clears there will be fireflies
& stars, brighter than anywhere,
which I could contemplate at times
of panic. Lightyears, think of it.

Screw poetry, it's you I want,
your taste, rain
on you, mouth on your skin.


Margaret Atwood

[Exceptindreams]




Noite alta acordo com a chuva, uma bátega,
o vento açoitando a folhagem, orelhas
enormes, enormes cabelos,
como animal perseguido, um cão gigante
ou porco selvagem. Trovões, e as janelas
a estremecer; do telhado de zinco
um dilúvio.

Estou na cama, por baixo da rede, deitada de lado,
enrolada numa manta, o cabelo cheio de sal.
Quando passar o temporal haverá pirilampos
e estrelas, mais brilhantes que alhures,
onde eu podia olhá-las em tempos de pânico.
Anos-luz, imagine-se.

Que se lixe a poesia, é a ti que eu quero,
o teu sabor, a chuva
em ti, minha boca em tua pele.

(Trad. A.M.)
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11.10.19

Rogelio Guedea (Sol de outra herança)





SOL DE OTRA HEREDAD



estoy en la entrada del centro comercial
al que solíamos venir los domingos
mientras escribo este poema sin destino,
este poema que cae de mi mano como las hojas
de los árboles abatidos por la lluvia,
miro entrar y salir a gente que no conozco,
es gente del país extranjero, tan desconocidos que entran
o salen, cada cual en su mundo de ipods y emepetrés,
y resulta que nadie se da cuenta que estoy
pensando en ti, en nuestros hijos que disfrutaban la sección
de juguetes o películas infantiles, mientras tú aprovechabas
para perderte entre blusas azules o vestidos de verano,
y yo – nunca lo supiste porque procuraba que nadie lo notara –
los observaba desde un rincón o esquina, una rendija
entre los anaqueles y el cielo, y me llenaba con la dicha de verlos felices,
ajenos a mis preocupaciones de empleado universitario,
o ciudadano de a pie, o, acaso, y tan solo, hombre triste,
uno más entre los hombres tristes que alguna vez, como ahora,
esperan verte salir o entrar al centro comercial
como lo solíamos hacer los domingos de cualquiera día,
y entonces, sin que te des cuenta, seguirte hasta la sección
de damas, y ahí contemplar la absoluta redondez
de tu blancura, todo eso sin adelantar mi mano para tocarte
un hombro, tu cuello o pelo, y luego decirte
–decirte arteramente– todo eso que mis
noches empiezan a contarme de ti.


Rogelio Guedea




estou à entrada do centro comercial
onde costumávamos vir ao domingo
enquanto escrevo este poema sem destino,
este poema que me cai da mão como as folhas
das árvores abatidas pela chuva,
observo pessoas que não conheço a entrar e a sair,
são pessoas do estrangeiro, desconhecidos que entram
ou saem, cada qual no seu mundo de Ipods e MP3,
e ninguém nota que eu estou
a pensar em ti, nos nossos filhos que entravam
na secção de brinquedos ou filmes infantis,
enquanto tu aproveitavas
para te perder no meio de blusas azuis ou vestidos de verão,
e eu – sem que soubesses, porque procurava escondê-lo –
os observava de um canto ou esquina, uma fresta
entra as estantes e o céu, e consolava-me
de os ver felizes,
alheios às minhas preocupações de funcionário,
de vulgar cidadão, ou talvez tão só de homem triste,
um mais entre outros homens tristes que às vezes, como agora,
esperam ver-te saindo ou entrando no centro comercial
como nós costumávamos ao domingo,
e então, sem dares conta, seguir-te até à secção
de mulher, contemplando ali o redondo absoluto
da tua brancura, isto sem estender a mão para te tocar
no ombro, pescoço, cabelo, e depois dizer-te
– dizer-te, matreiro – aquilo tudo que as noites
começam a contar-me de ti.

(Trad. A.M.)

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9.10.19

Octavio Paz (Aqui)





AQUÍ



Mis pasos en esta calle
resuenan
     en otra calle
donde
     oigo mis pasos
pasar en esta calle
     donde
sólo es real la niebla

Octavio Paz




Meus passos nesta rua
ressoam
      em outra rua
onde
      oiço meus passos
passar nesta rua
      onde
só é real a névoa

(Trad. A.M.)

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8.10.19

Manoel de Barros (Sem título)





SEM TÍTULO



Sei que fazer o inconexo aclara as loucuras.
Sou formado em desencontros.
A sensatez me absurda.
Os delírios verbais me terapeutam.
Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).
(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso
porque não encontrava um título para os seus poemas.
Um título que harmonizasse os seus conflitos. Até que
apareceu 'Flores do Mal'. A beleza e a dor. Essa antítese
o acalmou.)

As antíteses congraçam.


Manoel de Barros

[Acontecimentos]

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6.10.19

Fabián Casas (Advertência)





ADVERTÊNCIA



A poesia
quando não dá no alvo
gera ressentimento.
Nunca dá no alvo.


Fabián Casas

(Trad. A.M.)

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4.10.19

Montserrat Álvarez (Alta suciedade)




ALTA SUCIEDAD



En estas negras calles se trasnocha
y se bebe aguardiente con las putas
No me baño hace meses
Sé que carezco de principios
y que frecuento los abismos
mientras vosotros yacéis
en limpios, decentes lechos,
entre lujosas sábanas, con la conciencia recta
Pero más celeste es mi corazón que el vuestro
En mi alma llevo versos, y no estiércol


Montserrat Álvarez




Tresnoita-se por estas ruas escuras
e bebe-se aguardente com as putas
Banho não vejo há meses
Sei que não tenho princípios
e frequento os abismos
enquanto vós todos jazeis
em limpos, decentes leitos,
entre lençóis de luxo, com a consciência direita
Mas mais celeste é meu coração que o vosso
Na alma eu tenho versos, não esterco

(Trad. A.M.)

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3.10.19

Luciano de Giovanni (O paraíso)




(XX)


Penso
che il paradiso
sia ciascuno di noi
quando dimentica
il suo nome

Luciano de Giovanni




O paraíso
eu acho que
é cada qual
depois de esquecer
seu nome

(Trad. A.M.)

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1.10.19

Miriam Reyes (A dureza do todo)





La dureza del todo resulta
de la dureza de las partes.

Parece compacta la tierra
bajo nuestros pies.

Debajo de la tierra: roca.
Dentro de la tierra: roca.

Y aún así raíces insectos.


Miriam Reyes




A dureza do todo resulta
da dureza das partes.

Parece compacta a terra
sob os nossos pés.

Por baixo da terra, rocha.
Dentro da terra, rocha.

E mesmo assim raízes insectos.

(Trad. A.M.)

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