20.10.24

Chantal Maillard (O lençol)



LA SÁBANA


Y alargas la mano
buscando donde asirte y encuentras
la sábana.

¿Qué desfile de rostros
será ante tu cama
el del último día?

Tal vez vengan a verte
aquellos que no amaste.
O tal vez estés sola
y te laven el cuerpo
manos que nunca
acariciaste. 

Si al menos

pero no:
tan sólo es el tacto
de la sábana.

Chantal Maillard

[Revista Turia]


E estendendo a mão
a ver se te agarras
encontras o lençol. 

Que rostos desfilarão 
ao lado da cama
no último dia? 

Acaso virão ver-te
aqueles que não amaste.
Ou estarás só talvez
e lavarão teu corpo
mãos que nunca
afagaste. 

Se ao menos 

mas não:
é apenas o toque
do lençol.


(Trad. A.M.)

.


19.10.24

César Cantoni (Proponho deitarmo-nos)





TE PROPONGO ACOSTARNOS...

 

en el cuarto de baño,
en la cocina,
frente al espejo del ropero,
en las calles con autos
y transeúntes,
al pie de las estatuas,
sobre la tumba de los dictadores,
en las salas de cines y teatros,
en las cabinas telefónicas,
en los quirófanos,
donde haya un jergón,
un camastro,
una cucheta,
en 7 y 50,
en Nueva Delhi,
bajo la luna de Arequipa,
con la fogosidad de un cíclope,
imitando el aullido de los lobos,
isfrazados de súcubo
o de sierpe,
ya sin el peso de la culpa,
de mañana, de tarde,
a medianoche,
en plena madrugada,
con el primer albor...
y esperar abrazados
el abrazo imposible de la muerte.
 

César Cantoni 

 

... no quarto de banho,
na cozinha,
em frente do espelho do roupeiro,
na rua com carros
e transeuntes,
aos pés das estátuas,
sobre a campa dos ditadores,
nas salas de cinema e teatros,
nas cabinas telefónicas,
nas salas de cirurgia,
onde houver uma enxerga,
um catre,
um beliche,
em 7 e 50,
em Nova Deli,
sob a lua de Arequipa,
com o fogo de um ciclope,
a imitar o uivo dos lobos,
disfarçados de fauno
ou de serpente,
já sem o peso da culpa,
de manhã, de tarde,
à meia-noite,
em plena madrugada,
com a primeira alba…
e esperar abraçados
o abraço impossível da morte.


(Trad. A.M.)

.

17.10.24

Manuel Alegre (Quatro letras nos matam)

 



(Para Amália)

 

Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.

Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas.
E em cada assalto sou assassinado.

Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Manuel Alegre

[Livros e saltos]

.

15.10.24

Cecilia Casanova (Em nossa intenção)




EN CONMEMORACIÓN NUESTRA

 

Le pido al jardinero
que en conmemoración nuestra
no barra las hojas
Me recuerdan el jardín
de Via Aurelia Orientale
cuando los gansos nadaban en el estero
y la muerte andaba lejos


Cecilia Casanova

 

 

Peço ao jardineiro
em nossa intenção
que não varra as folhas.
Recordam-me o jardim
de Via Aurelia Orientale
quando os gansos nadavam no canal
e a morte ainda andava longe.


(Trad. A.M.)

 .

14.10.24

Circe Maia (Abril)




ABRIL

 

Este día tan lleno de niñez,
las cápsulas verdes de los eucaliptos
en el suelo, entre hojas.

El buen aroma frío y viejo trae
de la mano, consigo,
los paseos al sol y por un parque
en un abril de viento.

Por mirar la vereda así y oír el ruido
de las hojas, arriba;
por recoger las cápsulas y aspirar hasta el alma
su antiguo olor, se puede,

-a veces, sí, se puede –
abrir puertas cerradas hacía días remotos;
las mañanas del sol y un aire limpio, fino,
los bancos de madera por el borde del parque,
las veredas desiertas,
un viento decidido contra la cara, frío,
y en la mano, tibieza de la mano materna.

Circe Maia

 

 

Este dia tão pleno de meninice,
as cápsulas verdes dos eucaliptos
no chão, entre folhas.

O belo aroma frio e antigo
traz consigo, pela mão,
os passeios ao sol e pelo parque
num abril de vento.

Ao olhar a vereda assim, ouvindo
o ruído das folhas, em cima;
ao apanhar as cápsulas
e aspirar até à alma
esse odor antigo, pode-se

- às vezes, sim, pode-se –
abrir portas fechadas para dias remotos,
manhãs de sol e um ar limpo, muito fino,
os bancos de madeira pela beira do parque,
as veredas desertas,
um vento decidido contra a cara, frio,
e na mão, o morno da mão materna.


(Trad. A.M.)



>>  Más poesia (23p) / Tiberiades (16p) / El Golem (12p) / Revista Altazor (10p) / Mura (11p) / Eterna cadencia (3p)

.

12.10.24

Luís Palma Gomes (Não há caminhos)




NÃO HÁ CAMINHOS

 

Afinal,
éramos apenas uma questão de tempo.

Amar
e como podíamos amar de amor inteiro?

Se em tudo
o princípio trazia o fim de tudo.


Luís Palma Gomes

.

10.10.24

Carmen Martín Gaite (Beco sem saída)




CALLEJÓN SIN SALIDA


Ya sé que no hay salida,
pero dejad que siga por aquí.
No me pidáis que vuelva.
Se han clavado mis ojos y mi
carne,
y no puedo volver.
Y no quiero volver.
Ya no me gritéis más que no hay
salida
creyendo que no oigo,
que no entiendo.
Vuestras voces tropiezan en mi costra
y se caen como cáscaras
y las piso al andar.
Avanzo alegre y sola
en la exacta mañana
por el camino mío que he
encontrado
aunque no haya salida.


Carmen Martín Gaite

 

Já sei que não há saída,
mas deixai-me ir por aqui,
não me peçais para voltar.
Cravaram-se-me os olhos
e a carne,
e não posso voltar,
e não quero voltar.
Não me griteis que não há
saída,
julgando que eu não oiço,
que não entendo.
Vossas vozes tropeçam-me na crosta
e caem como cascas,
que eu piso ao andar.
Avanço sozinha e alegre
na exacta manhã
pelo meu próprio caminho
que encontrei
embora não haja saída.


(Trad. A.M.)

.