não pude amar mais ninguém
e mesmo que te minta
é o contrário disso
e mesmo que te minta
é a verdade seca
posta ali às avessas;
não pude amar mais claro
Fernando Assis Pacheco
não pude amar mais ninguém
e mesmo que te minta
é o contrário disso
e mesmo que te minta
é a verdade seca
posta ali às avessas;
não pude amar mais claro
Fernando Assis Pacheco
CONTAS DE CABEÇA
Amar-vos inda mais que só vos amo
a vós parentes meus de minha casa
e mesmo se amianto ardera em brasa?
a pata já no visgo se atezana
um dia que eu morrer quem é que chamo?
o 115 não que mal atrasa
esse chumbo cravado numa asa
a vós açanarei do alto ramo?
é costeio é açamo cai-se à vasa
gritar-vos inda mais que só vos amo?
Fernando Assis Pacheco
BOM REI AFONSO
Lavava-se só de raro
em raro
e só como o gato mas
era um tal
furor entre as damas e
suas aias
que se conta de uma
dona Ilduara
Veilaz a filha do
crego manco
tê-lo chamado um fim
de tarde
no meio de forte
trovoada
a Rendufe onde então
demorava
para a comer (e
recomer é claro)
nas três posições
principais
o que ele fez com brio
e recato
e isso atira para uma
conta calada
mesmo em termos de
História Pátria
e sem da Igreja o
beneplácito
gritando ela ao fim de
cada round
senhor senhor mais do
que ao mel
vós a erva-babosa me
cheirais
ah e tudo isto para fortalecer a alma!
Fernando Assis Pacheco
TENTAS, DE LONGE
Tentas, de longe, dizer que estás
aqui.
Com passo triste caminha na rua o Outono.
E o meu coração debruça-se à
janela
a ver pessoas e carros, e as folhas
caindo.
Mastigo esta solidão
como quando era pequeno e jantava
diante dos pais zangados:
devagar, ausente.
Um verso do Assis
(aliás, dois e meio):
e já termino
com só o fósforo duma estrela
na lixa do fim da tarde
Fernando Assis Pacheco