ENTÃO AGORA
VAMOS FICAR SEM O RUY BELO
Quando morre
um poeta é fatal a ANOP
«sempre em
cima do evento» debita o seu telegrama
tantos anos
uma «obra ímpar» etc.
foi assim
com o Ruy Belo mas o flash
pedia para
se não dar a notícia o que me levou
à conclusão
irresistível de que mais uma vez este
se
entretinha a reinar aos cowboys
ó Ruy tu
mascarado de Jesse James o vingador vingando
as
malas-artes da retórica idiota
o que me
levou à conclusão irresistível de que
esperaria
mais pormenores para «confirmação da informação»
seguiram-se
telefonemas de recurso a localizar em férias
o João
Miguel Fernandes Jorge não estava
no Bombarral
em casa dos pais não estava na Consolação
Lisboa: ele
próprio atende e diz
que o Ruy
Belo foi-se em Queluz de não entende o quê
asma ou
parecido há o problema do funeral quando
mas
certamente para a aldeia «João» e ele
responde
baixo «sozinho» «tinha vindo tratar de una papéis»
a porra da a
triste da a caca da vida que levamos sacudida sobre os ombros
passa esse
dia do telegrama da ANOP os jornais afinal noticiam
redijo
setenta linhas que acompanho com uma chamada de primeira página em positivo
sobre rede pensando muito na hipótese de um dia um colega meu sacar da máquina
um telex ou ouvir ao bigophone olha o gajo marchou dá lá recados
e o chefe (o
meu sucessor de carteira) breve a «duas colunas com foto» havendo apesar de
tudo um certo cuidado porque era da «malta»
e tu que
eras da malta não tive cuidado nenhum fui um coiro devia esmerar-me
devia mesmo
esmerar-me
então agora
ficamos sem o Ruy Belo
Fernando Assis Pacheco