Dantes, tudo era um peso ancestral de quietação e vagar
pelas matas de sobreiral e pinho em redor das águas represadas a que chamam
Lagoa Moura, havendo perto umas ruínas que a memória popular não assinala
além dos mouros.
Então, carregavam-se de silêncio as formas, pasmavam
lassos os ramos, pendiam restos de carumas, tombavam as pinhas de velhas,
empastavam-se as folhas mortas, deixavam-se as portadas entreabertas.
Em chegando a noite, com o rarear dos pássaros, alteavam-se
as sombras, delineavam-se os contornos, adensava-se o espaço, vibrava
subtilmente o ar e milhentos pequenos rumores emergiam do solo num restolhar de
sobrevivência.
Na dobra do século, as brisas, mais rijas de ano para ano,
entraram a balancear as copas, a revolver os gravetos, a frisar as águas, a
desinquietar o silêncio e a fazer a demonstração prática e local de que o
clima desvariava.
MÁRIO DE CARVALHO
A Sala Magenta-I
(2008)
>> Mário de Carvalho / Recensão-1 (Teresa Sousa Almeida) / Recensão-2 (Manuel Portela) / Recensão-3 (Nelson Ferreira) / Recensão-4 (Beja Santos)
A Sala Magenta-I
(2008)
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