31.3.24

Valerio Magrelli (Exfância)




EXFANZIA 

 

Che sorrisone faccio, nella foto! 
Sta per iniziare la gita
e scherzo con gli amici. 
Tra mezz'ora, cadendo, 
mi romperò una spalla
e poi sarò operato per due volte.
Ma che sorriso faccio, nella foto!
Arreso, felice, imbecille. 
Perché, se stiamo bene,
abbiamo sempre l'aria da imbecilli.
Una foto qualsiasi, una storia qualsiasi.
Tendini come versi, lunghi e fragili. 
Siamo fatti di vetro soffiato:
l'unica cosa buona sta nel soffio.
 

Valerio Magrelli

  

Que sorrisão que eu tenho, na foto!
A excursão está para começar
e eu brinco com os meus amigos.
Dentro de meia hora, hei-de cair
e partir um ombro
e ser operado depois duas vezes.
Mas que sorriso eu faço, na foto!
 Rendido, feliz, imbecil.
Porque, se nos sentimos bem,
temos sempre o ar de imbecis.
Uma foto qualquer, uma história qualquer.
Tendões como versos, compridos e frágeis.
Nós somos feitos de vidro soprado,
a única coisa boa está no sopro.
 

(Trad. A.M.)

 .

29.3.24

Vicente García (Projectos)




PROYETOS

 

Te marcharás un día.                                    
Tan sólo, en este tiempo,                                
demoras la partida.                                   
                               
¿ A qué lugar? Lo ignoras.                       
Allí donde te dejen                                      
vivir de alguna forma.         
                                                              
Olvida tu pasado,                                         
tus errores, y guarda                                        
un poco de entusiasmo.                                                     
                               
Para salir indemne,                                      
Para andar por la vida                                   
Y retrasar la muerte. 


Vicente García

 


Partirás um dia,
por agora, simplesmente,
demoras a largada.

Para onde, não sabes…
onde te deixarem
viver de algum modo.

Esquece teu passado,
teus erros, e guarda
um pouco de entusiasmo.

Para sair indemne,
para andar pela vida
e atrasar a morte.


(Trad. A.M.)

.

28.3.24

Eloy Sánchez Rosillo (Impromptu)




IMPROMPTU

 

Hoy que termina marzo
y que el sol de la tarde, ya vencido,
se tiende extenuado sobre el mar
y ahí, al tocar las aguas,
se va apagando en un chisporroteo
de ascuas pequeñas y de signos de oro,
cómo no agradecer emocionado,
antes de que la noche sobrevenga,
que este instante del mundo
- tan alegre, tan triste, tan intenso
como todo lo hermoso -
coincida en su existir con mi existir
y lo sepan mis ojos.

Eloy Sánchez Rosillo

 

 

Hoje, que Março acaba
e o sol da tarde, já vencido,
se estende fatigado sobre o mar
e aí, ao tocar nas águas,
se vai apagando num crepitar
de brasas pequenas e sinais de oiro,
como não agradecer emocionado,
antes de a noite cair,
que este instante do mundo
– tão alegre, tão triste, tão intenso
como tudo o que é belo –
coincida no seu existir com o meu existir
e meus olhos o saibam.


(Trad. A.M.)

.

26.3.24

Tanussi Cardoso (Da poesia)

 



DA POESIA 

 

o canto do pássaro
à procura do vento
não

a promessa de amor
nas faces da lua
não

o medo do mundo
em cima do muro
não

o malabarista
na corda-bamba
não

o olho do tigre
exato certeiro
preciso

o olho do tigre
sim


Tanussi Cardoso

 .

24.3.24

David Mayor (Distância crítica)




DISTANCIA CRÍTICA

 

El más cotidiano y eficaz de los experimentos
morales y políticos,
el principal reto - corregirte, substituir
lo que dices por lo que no dices -
impide que los amigos se conviertan en fantasmas,
buques de carga alejándose de la costa.


David Mayor

  

A mais quotidiana e eficaz das experiências
morais e políticas,
o maior desafio – corrigir-te, substituir
o que dizes pelo que não dizes –
impede os amigos de se converterem
em fantasmas,
navios de carga afastando-se da costa.


(Trad. A.M.)

.

23.3.24

David González (Pássaros)




PÁJAROS

 

en la acera
de enfrente:

un árbol
y
una farola
del alumbrado,

abrazados,

como
una pareja
de novios.

pero
solo
el
árbol
tiene
pájaros.

David González

 

no passeio 
em frente 

uma árvore 

um candeeiro 
de iluminação,
abraçados

como 
um par 
de noivos.

Mas 
só 

árvore 
tem 
pássaros.

(Trad. A.M.)

 .

21.3.24

Alexandre Pinheiro Torres (Super flumina)



SUPER FLUMINA

 

Ó desamável pátria minha     Tens vivido
do sangue do teu Filho   Mas agora
que toco teus seios de maçã tudo
me é indiferente    É tão fácil a

tua poesia de tramar lágrimas   Sei
teu parado sonho de passarem tudo
por cavalos brancos e que o sol se
economize em todo o mundo   não em ti

Crescem meus braços por teus ramos
esponjados   Continua-te um céu
em jejum de tempestade   Beberes o meu
é a forma de me teres e amar


ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
A Terra de meu Pai
Plátano (1972)


>>  Antonio Miranda (5p) / Facebook (alguns p) / Archive (perfil) / Wikipedia

.


19.3.24

Roberto Juarroz (Dar tudo por perdido)




(24)

 

Darlo todo por perdido.
Allí comienza lo abierto.
Entonces cualquier paso
puede ser el primero.
O cualquier gesto logra
sumar todos los gestos.
Darlo todo por perdido
Dejar que se abran solas
las puertas que faltan.
O mejor:
dejar que no se abran.


Roberto Juarroz

 

 

Dar tudo por perdido,
aí começa o caminho.
Qualquer passo então
pode ser o primeiro.
Ou qualquer gesto logra
conter todos os gestos.
Dar tudo por perdido,
deixar abrir sozinhas
as portas necessárias.
Ou melhor,
deixar que não se abram.


(Trad. A.M.)

.

18.3.24

Cristina Peri Rossi (Teoria literária)




TEORÍA LITERARIA 

 

Escriben porque tienen el pene corto
o la nariz torcida
Porque un amigo les robó la amante
y otro les ganaba al póker
Escriben porque quieren ser jefes de la tribu
y tener muchas mujeres
un cargo político
un tribunal
Por unas cuantas palabras
una tarima
(muchas mujeres). 

No se leen entre ellos
no se lo toman en serio:
Nadie está dispuesto a morir
colocadas en fila
(de izquierda a derecha,
no al estilo árabe)
ni por unas cuantas mujeres:
después de los cuarenta,
todos son posmodernos.
 

Cristina Peri Rossi 

[Emma Gunst] 

 

Escrevem porque têm o pénis pequeno
ou o nariz torto
Porque um amigo lhes roubou a amante
e outro lhes ganhava ao póquer
Escrevem porque querem ser chefes da tribo
e ter muitas mulheres
um cargo político
um tribunal
Por umas quantas palavras
uma tarimba
(vá, muitas mulheres).

Não se lêem uns aos outros
nem o levam a sério:
Não estão dispostos a morrer
alinhados
(da esquerda para a direita,
não ao estilo árabe)
nem por umas quantas mulheres:
depois dos quarenta,
são todos pós-modernos.


(Trad. A.M.)

.

16.3.24

Sebastião da Gama (Cantilena)

 



CANTILENA

 

Cortaram as asas
ao rouxinol
Rouxinol sem asas
não pode voar.

Quebraram-te o bico,
rouxinol!
Rouxinol sem bico
não pode cantar.

Que ao menos a Noite
ninguém, rouxinol!,
ta queira roubar.
Rouxinol sem Noite
não pode viver.

 Sebastião da Gama

 .

14.3.24

Carlos Martínez Aguirre (O amor é um género literário)




EL AMOR ES UM GÉNERO LITERARIO

 

He pensado escribirte como si no existiera 
aún el feminismo. Como si nuestro tiempo 
no fuera el fin de siglo, ni nadie conociesee
la igualdad de los sexos, ni causara extrañeza 
oír que te dijera que el amor que yo siento 
por ti jamás podrías sentirlo tú por nadie.
Tal vez el amor sea solo literatura
que cambia con el tiempo. Supongo que nosotros
no amamos como Shakespeare, ni Shakespeare como Dante, 
ni Dante como Safo, ni Safo como nadie.
 

Carlos Martínez Aguirre 

 

Pensei em escrever-te como se não existisse
ainda o feminismo. Como se o nosso tempo
não fosse o fim do século, nem ninguém conhecesse
a igualdade dos sexos, nem causasse estranheza
ouvir que te dissesse que o amor que eu sinto
por ti nunca poderias senti-lo tu por ninguém.
Talvez o amor seja apenas literatura
que muda com o tempo. Eu suponho que nós
não amamos como Shakespeare, nem Shakespeare como Dante,
nem Dante como Safo, nem Safo como ninguém.
 

(Trad. J.M.Magalhães)


>>  Clasicas (sitio prof) / Unirioja (8p) / Hector Castilla (11p) / Wikipedia

.


13.3.24

Antonio Porchia (Sei que não tens nada)




Sei que não tens nada.
Por isso te peço tudo.
Para que tenhas tudo.


Antonio Porchia


(Trad. A.M.)

.

11.3.24

Sebastião Alba (Deixa entrar no poema)



Deixa entrar no poema
alguns clichés.

Submetidos à experiência inefável,
sua carga (eléctrica?)
escoar-se-á. 

Não há uma vala comum para as palavras
decaídas,
um dicionário no inferno; 

mas deixa-as vir à tona
da claridade,
e nada lhes insufles. Vê: 

não suportam a beleza
que as circunda, abismam-se
em seu ridículo.

 

Sebastião Alba

[Antologia do esquecimento]


.

 


9.3.24

César Cantoni (O poeta da revolução)




EL POETA DE LA REVOLUCIÓN 

 

Una vez, siendo joven, 
me propuse pegarme 
un balazo en el pecho.  

Ese tributo a Maiakovski
–yo era, entonces, marxista–
y algunos versos entusiastas que había escrito 
me auguraban, en mi fuero
más íntimo, un sitial memorable.  

No sé si por cobardía o pura comodidad, 
durante un tiempo largo,
esperé que el balazo anhelado me lo pegara otro.  

Al final, la Revolución fracasó,
nadie colaboró dándome muerte
y aquí estoy, poéticamente destronado, 
escribiendo estas líneas. 
 

César Cantoni  

[Otra iglesia] 

 

Uma vez, em jovem,
propus-me pregar
um balázio no peito. 

Esse tributo a Maiakovski
 - eu era marxista, por então -
e alguns versos entusiastas que tinha escrito
auguravam-me, no meu foro
mais íntimo, um cadeiral de respeito.

Não sei se por cobardia ou pura comodidade,
durante largo tempo,
esperei que o almejado tiro mo atirasse outro.

Afinal, a Revolução fracassou,
ninguém ajudou a dar-me morte
e aqui estou eu, poeticamente destronado,
a escrever estas linhas.

(Trad. A.M.)

 .

8.3.24

Vicente García (Ubi sunt?)




UBI SUNT?

 

Lo que han envejecido los poemas
escritos hace años (tres de ellos
podían ser entonces la razón de la vida
y ahora no los quiere ni el recuerdo).

También nosotros éramos mejores.
También los días eran otra cosa...
En su rincón perduran las fotos de aquel tiempo
y guardan la verdad de aquella historia.

Quizás en el futuro nuestros libros
parezcan trasnochados
en la memoria de alguien.
Por lo menos,
no hablábamos muy alto.


Vicente García



O que envelheceram os poemas
escritos há anos (três deles
podiam ser então a razão da vida
e agora nem a lembrança os quer).

Também nós éramos melhores,
também os dias eram outra coisa…
No seu canto perduram as fotos desse tempo
e conservam a verdade daquela história.

Talvez no futuro nossos livros
pareçam antiquados
na lembrança de alguém.
Pelo menos,
não falávamos muito alto.


(Trad. A.M.)



>>  Poemas del alma (24p) / Poemas y poetas (26p) / Clarin (recensão anto/1992-2008)

.

6.3.24

Sandro Penna (Poeta exclusivo)




‘’Poeta esclusivo d’amore”
m’hanno chiamato. E forse era vero.
Ma il vento qui sull’erba ed i rumori
della città lontana
non sono anch’essi amore?
Sotto nuvole calde
non sono ancora i suoni
di un amore che arde
e più non si allontana?


Sandro Penna



“Poeta exclusivo de amor”
chamaram-me. E era talvez verdade.
Mas o vento aqui na relva e os rumores
da cidade ao longe
não são também eles amor?
Sob as nuvens do calor
não são ainda os sons
de um amor que arde
e não se afasta mais?

(Trad. A.M.)

 .

4.3.24

Cecilia Casanova (Tema de pássaros)




TEMA DE PÁJAROS


Porque tenemos mucho que decir
callamos de una manera torpe.
Habituados a oírnos
en el movimiento de las manos
en la actitud de volver los ojos.
La ventana nos brinda temas de pájaros
pero cuando voy a señalártelos
el cielo está solo.
Regresamos perdidos cada uno en un bosque
demasiado cerca para rozarnos.


Cecilia Casanova

 

 

Porque temos muito para dizer,
calamo-nos sem jeito,
habituados a ouvir-nos
no movimento das mãos,
ou no gesto de voltar os olhos.
A janela brinda-nos com temas de pássaros,
mas quando eu vou a apontar-tos
o céu está deserto.
Regressamos perdidos cada um num bosque
demasiado perto para embarrarmos.


(Trad. A.M.)

.

3.3.24

Begoña Abad (Que fizeste na tua vida?)




¿Qué hiciste en tu vida?
Caer y levantarme.
Aprender a curar rodillas magulladas.
Echar remiendos en los desgarros.
Inventar menús para los que tenían 
hambre.
Caer y levantarme.
Escuchar los gritos silenciosos del miedo.
Hacer hueco para que cupieran todos.
Sumar y multiplicar la alegría de diario.
Restar y dividir la angustia y la tristura.
Abrir puertas.
Caer y mirar desde ahí.
Caer y levantarme.
 

Begoña Abad 

 

Que fizeste tu na tua vida?
Cair e erguer-me.
Aprender a curar joelhos magoados.
Deitar remendos nos rasgões.
Inventar menus para os que tinham
fome.
Cair e erguer-me.
Escutar os gritos silenciosos do medo.
Abrir espaço para todos caberem.
Somar e multiplicar a alegria de cada dia.
Tirar e dividir angústias e  tristezas.
Abrir portas.
Cair e observar, de baixo.
Cair e erguer-me. 


(Trad. A.M.)

 .

1.3.24

Salvatore Quasimodo (Verão)

 



ESTATE

 

Cicale, sorelle, nel sole
con voi mi nascondo
nel folto dei pioppi
e aspetto le stelle.


Salvatore Quasimodo



Cigarras, irmãzinhas,
na terra convosco me escondo,
à sombra dos choupos,
e espero as estrelas.

 

(Trad. A.M.)

 .