14.8.17

Helder Moura Pereira (Esse vidro)





ESSE VIDRO



Janelas rompem
na casa, uma flor
no vestido, esse vidro
nos olhos. Janelas
sobre o que vês,
apenas o breve
relance de uma face
perdida, apenas
uma frase de jardim
ou uma rosa de julho.
Janelas rompem
nos teus olhos
e a roda do vestido
ilumina esta manhã.
Quando apontas
sou eu que venho
subindo as escadas,
sou eu que sinto
todas as mãos
por esta pele.
Aqui começa a cor
das telhas, o verde
musgo, a orientação
das imagens. Chegas
do lado mais esperado
da cidade e não
te encobre a bruma
definindo a linha
das janelas. A que
hesito entre o gesto
de mostrar a face
que regressa e adivinha.
No vidro dos olhos
a flor do vestido, nos
degraus o súbito
desejo de janelas
tapando a morte.



Helder Moura Pereira

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