8.3.10

Pedro Mexia (Noiva de Deus)





NOIVA DE DEUS



Como no filme, era noiva de Deus,
confessou-me, ríspida, seu
perseguidor. Os seios
ainda facilmente me oprimem
o fôlego, anos passados.
Eu tentava a pouca arte, a repetição,
mas ela e Deus promessi
sposi (foi isto em Itália).
Álibi, imaginei, sempre generoso.
Mas não: em Setembro abandonava
a roupa civil, escondia os cabelos
pretos, ia entregue. Não sei
como se passou: uma década quase,
nem o seu nome. Apenas
um poema como lápide, como
ironia, o volume ainda laico
do seu peito e a última vez
que concorri com Deus.



PEDRO MEXIA
Vida Oculta
(2004)

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