TIA CHOFI
Amanheci triste no dia da tua morte, tia Chofi,
mas de tarde fui ao cinema e fiz amor.
Eu não sabia que estavas morta a cem léguas daqui
com teus setenta anos de perpétua virgem,
estendida num catre, estupidamente morta.
Fizeste bem em morrer, tia Chofi,
porque nada fazias, ninguém te ligava,
porque depois da morte da avó, a quem te consagraste,
não tinhas mais que fazer e via-se à légua
que tu querias morrer, mas te aguentavas.
Fizeste bem.
Eu não queria gabar-te como fazem os arrependidos,
porque na tua hora te amei, no lugar exacto,
e sei muito bem o que foste, tão comum, tão singela,
mas pus-me a chorar como uma menina porque tu morreste.
Tão desamparada te sinto,
tão só, sem ninguém que te ajude a dobrar a esquina
ou que te dê um pão.
Aflige-me pensar que estás debaixo da terra
tão fria de Berriozábal,
sozinha, sozinha, terrivelmente sozinha...
Jaime Sabines
(
Trad. A.M.)
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