Não consigo abrir um livro sem terror: acredito que a literatura mata.
Mata como um veneno no sangue.
Ninguém se apercebe a tempo de procurar o antídoto.
Que, aliás, não existe.
Mesmo parar de ler não resolve nada.
Infiltrado, o veneno literário torna-se carne da própria carne, a ponto de já ninguém saber quem pensa dentro de si: a ilusão de uma voz original, ou a das personagens que entraram sem pedir licença. (...)
Alguns livros convidam a matar.
Outros, ao suicídio.
Outros ainda, mais subtis, limitam-se a relativizar a morte – meio caminho para morrer.
Todos são substâncias perigosas, como os medicamentos.
Só deveriam poder ser comprados com receita médica ou atestado de robustez intelectual.
- PEDRO EIRAS,
Substâncias Perigosas - Cem breves lições em que se explica por que meios os livros matam os seus leitores, Livrododia, 2010
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