OS VERÕES
Foram longos e ardentes os Verões!
Estávamos nus junto ao mar
e ainda mais nu o mar. Com os olhos,
e ágeis de corpo, tomávamos
posse do mundo a mais ditosa.
Soavam-nos as vozes acesas de lua
e era a vida cálida e violenta,
ingratos ao sonho transcorríamos.
O ritmo escuro das ondas
abrasava-nos eternos e éramos apenas tempo.
Apagavam-se os astros de manhã
e à luz fria que voltava
iniciava-se o amor furioso e delicado.
Hoje parece mentira que fôssemos felizes
ao modo imerecido dos deuses.
Que estranha e breve foi a juventude!
FRANCISCO BRINES
El Otoño de las Rosas
(1987)
[
Cervantes]
(Trad. A.M.)
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