1.3.10

Mário Dionísio (País de azulejos partidos)






País de azulejos partidos
de erva trepando entre paredes em ruína
País entregue à sua sina
sem olhos e sem ouvidos


País voraz ruminando o almoço
rindo ou chorando uncapaz de sorrir
País de corpo aberto a quem está a seguir
País do rastejar entre a pele e o osso


Pulinhos para trás e para a frente
de polegar na cava do colete
foguetes procissões uns copos de palhete
país da pequenez de si mesma contente


País indiferente aos que dão por ele a vida
País herói se não há perigo em sê-lo
País de velhos do Restelo
dado à mão-baixa perto e consentida


País que tudo quer e nada quer tudo suporta
País do faz como vires fazer
País do quero lá saber
do quem vier depois que feche a porta



MÁRIO DIONÍSIO
Terceira Idade
(1982)



>>  Casa da Achada (tudo+algo)  /  As Tormentas (5p)  /  Jornal de Poesia (5p)

.