21.1.16
Paulo Castilho (Divórcio)
O menino Vasquinho, convencido que é engraçado, chama-me a falecida, mas, na verdade, eu devia lá estar, porque ainda não me divorciei.
O Vasco é um molengão e nunca trata de nada, sobretudo se envolver papelada.
Entidades oficiais, finanças, juízes, notários, todos lhe causam repugnância.
E eu, pela minha parte, ainda não senti necessidade nem vi que vantagem me daria estar divorciada, de maneira que vou andando assim e logo se vê, se for caso disso, agora é muito fácil, mais fácil, já me disseram, do que um senhorio ver-se livre de um inquilino.
Para despachar o marido basta dizer ‘virou estafermo’, ou ‘fartei-me daquela fronha’, ou ‘imagine o sotor juiz que ele mastiga com a boca aberta’.
Mas se calhar nem é preciso incomodar o sotor juiz.
Qualquer dia é no guichet do Metro: dois Passes Navegante e um divórcio. (p. 76)
PAULO CASTILHO
O Sonho Português
(2015)
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