Fazemos um compromisso – dei por mim a dizer – aceito a tua proposta, mas com uma pequena reserva.
Compromisso? – repetiu o Vasco, tom desconfiado.
Continuei: não te relato tudo, de qualquer maneira, não era prático, em vez disso decido eu, caso a caso, conto-te o que me parecer relevante.
O Vasco odiou a minha proposta.
Mas aceitou-a, embora com um comentário chato: muito bem, mas registo que a tua confiança em mim é limitada e por isso a minha confiança em ti fica também mais baixa.
O que é que me dizes a isto, Sophie?
Concordas de certeza que foi uma conversa muito desagradável e que eu, para preservar a minha dignidade, devia era ter-me levantado da mesa e mandado o gajo à merda, mas como a dignidade é uma rubrica que o meu orçamento não comporta, tenho de me refugiar numa solução à portuguesa: depois de lhe ter dito que sim, não lhe reporto coisa nenhuma e quando ele insistir digo-lhe frases vagas e contraditórias, tipo: tenho estado pouco com ela; divertimo-nos tanto as duas que nem me dá para reparar.
Isto se o Vasco alguma vez me perguntar, porque o mais provável é esquecer-se e passar para outro esquema, que a persistência também não é o nosso forte. (p. 59)
PAULO CASTILHO
O Sonho Português
(2015)
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