26.7.15

José Cardoso Pires (Opus Night-8)





'Vade retro, seu merdas', bradou-lhe a sábia inocente.

E qual avezinha temerosa voou solerte para o banheiro deixando o predador em atónita confusão.

(Estás a ver, a gaja agora já não era freira nem travesti nem coisa nenhuma, explicaria Sebastião Opus Night a um amigo de bar.

Desta vez vinha disfarçada de virgenzinha para me aplicar o castigo da nega, deixando-me de porra no ar e fugindo para o duche) donde regressou, enrolada num lençol de banho, com cara de enojadíssima.

Não o olhou, não disse palavra.

Vestiu-se e perfumou-se nas calmas, como se o Opus não existisse.

Viu as horas, viu a agenda, viu-se a ela com lentidão, e quando se foi embora disse-lhe adeus com as chaves do carro:

'Tenha paciência, mas o mano ao fazer desta tresmalhou. Passe bem.'

E fechou a porta.

Opus Night respondeu-lhe com um peido que abalou o prédio de alto a baixo.

Parece impossível!, berrou, num salto, o vizinho do andar de cima. (p.253)



JOSÉ CARDOSO PIRES
Alexandra Alpha
(1987)

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