23.7.15

José Cardoso Pires (Opus Night-7)





Pois é.

Alexandra e Opus Night os dois agora sozinhos diante dos copos.

A orquestra mecânica, um preto articulado a coçaram banjo na barriga.

'Pois é', repetiu ela.

'Já vi que o mano não é de bailar e eu por acaso nem por isso'.

Pois é. Pois era.

Ela e o marquês de olhar nocturno.

'E quanto a conversa?', perguntou, 'Aprecia ou faz jejum?'

Sebastião Opus Night sorria, manso.

'Não sei se sabe que vai por aí uma grande carestia', tornou Alexandra.

'Pois. É verdade.
'Uma grande carestia.
'Costuma-se a dizer que mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, compreende-me, não é assim?
'Claro, eu sei que me compreende.

'Olhe, mano, eu se não fosse assim tão deseducada tinha mas era ido para psicóloga, que hoje em dia é onde está o futuro.'

Opus Night: 'Se as mulheres tivessem alma, Deus aparecia sem barbas'.

Alexandra: 'Olá? Confesso que não percebi. Pelo que estou a ver o mano é de sabedorias'.

Opus Night: 'Muito. De mulheres e de bebida cada qual sua medida. Gostou?'

Alexandra: 'Imenso. O pior, sabe, é que elas não matam mas moem'. (p.248)



JOSÉ CARDOSO PIRES
Alexandra Alpha
(1987)

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