AS PALAVRAS-CHAVE
Não sei já que dizer das palavras
senão que entristecem quando o sangue
irrompe na garganta ou o ódio
impõe sua desmesura e tudo destrói,
que seu pranto me dói quando a chuva insiste,
que não servem muitas vezes,
que quase todas guardam um segredo
ou uma gota de mel
na cela inacessível das consoantes.
Entre todas uma me deixa perplexo:
a palavra silêncio,
aquela que às vezes não passa de um gesto,
um verso à deriva, uma canção
dormente.
Ando com um candil
pelo bosque infinito de palavras,
apoiado no meu bastão de incerteza,
quase sempre desperto e sem perder o rasto
que me assinalam as vogais, quais estrelas fugazes
a meio da noite, ansioso por encontrar
minha voz na penumbra, a sílaba perdida
que persigo no sonho.
ALFREDO BUXÁN
Las Palabras Perdidas
(Poesía 1989-2008)
Bartleby Editores (2011)
(Trad. A.M.)
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