12.1.11

Mario Quintana (Elegia)






ELEGIA




Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas…
Uma velhinha sozinha numa gare.
Um sapato preto perdido do seu par: símbolo
da mais absoluta viuvez.
As recordações das solteironas.
Essas gravatas
de um mau gosto tocante
que nos dão as velhas tias.
As velhas tias.
Um novo parente que se descobre.
A palavra “quincúncio”.
Esses pensamentos que nos chegam de súbito
nas ocasiões mais impróprias.
Um cachorro anónimo que resolve ir seguindo a gente
pela madrugada na cidade deserta.
Este poema, este pobre poema
sem fim…



Mario Quintana


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