Os barcos da pesca, tábuas frágeis puxadas a remo, apareciam um momento no vazio das ondas, depois na crista, ora a pique ou então de proa para cima como se fossem voar, bamboleando naquela contradança de vento e água.
Os homens que não remavam víamo-los em pé, num equilíbrio impossível, fazendo contrapeso.
Ou então agachados, presos ao rebordo, recebendo nas costas as pancadas do mar, às vezes pegando num remo a dois, a deitar a mão ao companheiro que fraquejava.
De través, às arrecuas ou de proa, ganhando metros, perdendo metros, os barcos iam-se aproximando da praia cheios de cautela, os olhos dos homens atentos à corrente.
Por fim, à força de braço, de jeito e orações, aproveitando uma onda mais mansa, deixavam-se levar por ela e encalhavam no areal.
- J. RENTES DE CARVALHO,
Ernestina, Ed. Escritor, Lx. 2001, p. 162.
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