RUA DE COOLELA
No ângulo extremo da Ponta Vermelha,
lá onde a ruína do farol é sentinela decrépita,
traçado linear pendendo para a incerteza
da barreira sujeita aos caprichos das enxurradas
de verão. Sentado no degrau, diante
do eucalipto gigantesco a interditar o horizonte.
O quintal barricado do Hugh Lemay,
agente transitário e (secreto) de Sua Majestade.
Que conste, pelos seus bons ofícios, as frotas
nazi e italiana sofriam pesadas baixas
ao largo da costa. Havia também
Marina, filha mais velha do pianista
do casino, pernas magras enfeitiçando,
qual deusa na selva dos comic books,
o meu desejo obscuro. Em redor habitações
modestas de pequenos funcionários e da tropa
pequena, a cumplicidade dos companheiros
partilhando amizade nos esconderijos
da exaurida e obsoleta Carreira de Tiro,
fascínio misterioso e intrigante,
oculto na densa camuflagem do baldio,
velha fortaleza a recato de olhares indiscretos:
um mundo tecido de fantasia a encobrir
a exígua, quase anónima, rua que conduziria,
afinal, ao curso errado de meus dias.
Rui Knopfli
[
Silva]
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