(LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA)
Uma vez por semana, para fazer render mais os meus escassos dinheiros, montava-me na bicicleta e ia até Melena del Sur, a trinta quilómetros da cidade, a comprar produtos directamente aos agricultores e a trocar a minha habilidade de capador e desparasitador de porcos por um pouco de carne e alguns ovos para Ana.
Se antes uns meses eu parecia canceroso, o novo esforço converteu-me num fantasma pedalante e elementar, e ainda hoje não sei como saí vivo e lúcido daquela luta pela sobrevivência, que meteu desde operar as cordas vocais de centenas de suínos urbanos por causa do chiadouro até entrar em luta soco a soco (onde chegaram a faiscar punhais) com um veterinário que me queria roubar os fregueses; no fundo do abismo, acossado de todos os lados, os instintos podem ser mais fortes do que as convicções.
(Cap. 24)
LEONARDO PADURA
El hombre que amaba a los perros
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