11.9.14

Raul Brandão (Névoas-1)





Sol e azul e depois névoa.

Às vezes começa em Agosto, outras em Setembro.

Uma barra ao longe anuncia-a, uma barra que cresce em fumarada sobre a terra, ou que se dispersa correndo para o sul, em labaredas sobre o mar esverdeado.

Há outras névoas no Verão que se descerram lentamente como cortinas, ficando o panorama límpido como uma aguarela acabada de pintar.

Outras têm léguas de extensão e levam dias a passar.

E o mar exala um cheiro mais vivo quando o nevoeiro parece dissolver-se, para logo voltar mais denso e compacto.

Às vezes vê-se entre a neblina um ponto da costa cheio de luz, um rasgão no mar, uma única pedra iluminada entre o céu infinito e o mar infinito.

Tenho visto também umas névoas esbranquiçadas que ficam lá para muito fundo embebendo-se de luz.
Névoa, um pouco de sol e brancura, tudo emborralhado.

A onda vem de longe, irrompe da névoa, e só se vêem os grandes rolos brancos revolvidos de espuma muito ao perto quando se despedaçam.

Em Sagres assisti a um nevoeiro extraordinário.

Aparecem primeiro uns flocos no céu, e a luz tornou-se logo mais azul, pegando azul à pele, molhando de azul as mãos estendidas.

Depois a névoa, que no Verão dura segundos, doirou e subiu ao ar, tornando o horizonte mais ilimitado e fantasmagórico...


- RAUL BRANDÃO, Os Pescadores.

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