(Poética)
Zidane lanzaba las faltas
apuntando a la cabeza de los jugadores de la barrera. Según él, casi siempre
fallaba y, de esa forma, salía un lanzamiento más alto que terminaba en gol. Me
gusta esa idea a la hora de salvar obstáculos: aprovechar el margen de error en
beneficio propio. Apuntar siempre un poco más abajo para no acabar en las
nubes, demasiado lejos de uno mismo o del discernimiento. Tener en cuenta que
el vaso de agua en el que nos ahogamos es el mismo que nos quita la sed. Por
otra parte, considero la poesía misma un margen de error, la silueta dibujada
por la luz que se filtra entre los huecos libres del abrazo que se dan poeta y
mundo.
José Alcaraz
Zidane
marcava as faltas apontando à cabeça dos jogadores da barreira. Segundo ele,
falhava quase sempre e dessa forma saía um lançamento mais alto que terminava
em golo. Agrada-me essa ideia na hora de saltar obstáculos: a margem de erro,
aproveitá-la em benefício próprio. Apontar sempre um pouco mais baixo para não
acabar nas nuvens, demasiado longe de nós mesmos ou do discernimento. Ter em
conta que o copo de água em que nos afogamos é o mesmo que nos tira a sede. Por
outro lado, considero a poesia mesma uma margem de erro, a silhueta desenhada
pela luz que se filtra pelos espaços livres do abraço entre o poeta e o mundo.
(Trad. A.M.)