24.9.14

José Alcaraz (Poética)





(Poética)

Zidane lanzaba las faltas apuntando a la cabeza de los jugadores de la barrera. Según él, casi siempre fallaba y, de esa forma, salía un lanzamiento más alto que terminaba en gol. Me gusta esa idea a la hora de salvar obstáculos: aprovechar el margen de error en beneficio propio. Apuntar siempre un poco más abajo para no acabar en las nubes, demasiado lejos de uno mismo o del discernimiento. Tener en cuenta que el vaso de agua en el que nos ahogamos es el mismo que nos quita la sed. Por otra parte, considero la poesía misma un margen de error, la silueta dibujada por la luz que se filtra entre los huecos libres del abrazo que se dan poeta y mundo.

José Alcaraz



Zidane marcava as faltas apontando à cabeça dos jogadores da barreira. Segundo ele, falhava quase sempre e dessa forma saía um lançamento mais alto que terminava em golo. Agrada-me essa ideia na hora de saltar obstáculos: a margem de erro, aproveitá-la em benefício próprio. Apontar sempre um pouco mais baixo para não acabar nas nuvens, demasiado longe de nós mesmos ou do discernimento. Ter em conta que o copo de água em que nos afogamos é o mesmo que nos tira a sede. Por outro lado, considero a poesia mesma uma margem de erro, a silhueta desenhada pela luz que se filtra pelos espaços livres do abraço entre o poeta e o mundo.

(Trad. A.M.)

.