BALADA PARA MINHA MÃE
À hora difusa, decomposta,
em que as perguntas terrenas
ficam no ar, sem resposta;
em que as coisas maiores do mundo
nos parecem pequenas;
em que se arrancam as palavras
ao nosso corpo moribundo
como se arrancam pobres penas
à asa de um pássaro ferido;
à hora crucial dos vãos confrontos
e das inúteis cantilenas,
não se dirá de mim, ao certo,
que houve a mais triste das cenas;
nem se dirá que minhas mãos
semeando o mal, como semearam,
terão a cor das açucenas
se para o bem foram pequenas. . .
À hora sem brilho, sem resposta,
minhas mágoas serão serenas;
pois há um nome que foi feito
pra ser pronunciado por último
por ser uma sílaba apenas. . .
Cassiano Ricardo
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