21.10.12
Raymond Carver (A minha morte)
MY DEATH
If I'm lucky, I'll be wired every whichway
in a hospital bed. Tubes running into
my nose. But try not to be scared of me, friends!
I'm telling you right now that this is okay.
It's little enough to ask for at the end.
Someone, I hope, will have phoned everyone
to say, "Come quick, he's failing!"
And they will come. And there will be time for me
to bid goodbye to each of my loved ones.
If I'm lucky, they'll step forward
and I'll be able to see them one last time
and take that memory with me.
Sure, they might lay eyes on me and want to run away
and howl. But instead, since they love me,
they'll lift my hand and say "Courage"
or "It's going to be all right."
And they're right. It is all right.
It's just fine. If you only knew how happy you've made me!
I just hope my luck holds, and I can make
some sign of recognition.
Open and close my eyes as if to say,
"Yes, I hear you. I understand you."
I may even manage something like this:
"I love you too. Be happy."
I hope so! But I don't want to ask for too much.
If I'm unlucky, as I deserve, well, I'll just
drop over, like that, without any chance
for farewell, or to press anyone's hand.
Or say how much I cared for you and enjoyed
your company all these years. In any case,
try not to mourn for me too much. I want you to know
I was happy when I was here.
And remember I told you this a while ago - April 1984.
But be glad for me if I can die in the presence
of friends and family. If this happens, believe me,
I came out ahead. I didn't lose this one.
Raymond Carver
Com sorte, estarei ligado
numa cama de hospital, com tubos
no nariz. Mas calma, meus amigos,
tudo bem, desde já vos digo.
No fim não se pode pedir muito.
Alguém, espero, ligará para os outros
a dizer: “Vem depressa, que ele está a morrer”!
E eles hão-de vir, e eu terei tempo
de dizer adeus a cada um dos meus entes queridos.
Com sorte, chegar-se-ão à frente
para eu poder vê-los uma última vez
e levar essa imagem comigo.
Claro, podem pôr os olhos em mim e querer fugir
e uivar. Mas, porque me amam,
hão-de pegar-me antes na mão, dizendo: “Coragem”
ou “Vai correr tudo bem”.
E está bem assim, está bem,
está muito bem. Se vós soubésseis quão feliz me fizestes!
Oxalá continue a minha sorte e eu possa
mostrar o meu reconhecimento,
abrir os olhos e fechar, como se dissesse:
“Sim, estou a ouvir, compreendo-vos”,
podendo mesmo acrescentar algo assim como:
“Também vos amo, sede felizes”.
Oxalá, mas não quero estar a pedir de mais,
se não tiver sorte, como mereço, bem, vou-me
assim mesmo, sem mais, sem dizer adeus
nem apertar a mão de ninguém,
sem dizer quanto vos quis e quanto gozei
da vossa companhia nestes anos todos.
De todo o modo, não me choreis demasiado,
ficai sabendo que eu fui muito feliz aqui.
E lembrai-vos que eu disse-vos isso há tempos - Abril 1984.
Mas regozijai-vos comigo, caso eu possa morrer
junto dos amigos e família. Se assim acontecer, podeis crer,
eu saio pela porta grande. Desta vez não perdi.
(Trad. A.M.)
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