29.10.12

Jordi Doce (Díptico)





DÍPTICO



No hay luz sino estupor de luz
en este jardín abrasado
de frío y lenta escarcha donde
alguien cuya sombra te evoca
remueve sin prisa la tierra
y deja en los surcos un hilo
de luz fría donde mis ojos
desde esta página te anuncian
y dicen verte, aunque no estés.

Hago inventario de tu ausencia:
ojos no usados, aire intacto,
las horas como lumbre escasa
que el aire no aventa ni excita.
En todo espío transparencias,
temblor que es tu cuerpo inasible.
Hago inventario de tu ausencia
para que sepas de tu vida
a mi lado, cuando no estás.


Jordi Doce



Não há luz mas sim assombro de luz
neste jardim abrasado
de frio e lento orvalho onde
alguém que evoca a tua sombra
remove a terra sem pressa
e deixa nos sulcos um fio
de luz fria onde meus olhos
te anunciam desta página
e dizem ver-te, mesmo ausente.

Faço inventário da tua ausência:
olhos sem uso, ar intacto,
as horas lume escasso
que o ar não sopra nem excita.
Em tudo vejo transparências,
tremor de teu corpo intocável.
Faço inventário da tua ausência
para saberes da tua vida
a meu lado, quando não estás.


(Trad. A.M.)



>>  A media voz (13p) / Portal de poesia (antologia / 1990-2002) / Jordi Doce (blogue) / Wikipedia

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