A garrafa de óleo de fígado de bacalhau acendeu vívida a recordação e instintivamente afastei-me da mesa, mas nessa noite e daí em diante a minha resistência seria vã.
Unidos como nunca os tinha visto, meu pai sentou-se na cadeira e, segurando-me os braços atrás das costas, prendeu-me as pernas entre as suas para evitar que esperneasse; minha mãe puxou-me a cabeça para trás, apertou-me o nariz, meteu-me a colher entre os dentes e, lentamente, lentamente, deixou escorrer aquela peçonha.
Reviraram-se-me as entranhas, mas eles continuavam a segurar-me e de nada valeu o choro; aquilo era para meu bem, ia crescer e ficar um homenzarrão.
- J. RENTES DE CARVALHO,
Ernestina, Ed. Escritor, Lx. 2001, p. 145.
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