17.11.10

José Rentes de Carvalho (Ala que se faz tarde)






As mulheres baixaram os olhos a temer o que iria sair e porque não demorava a ser horas de ir para a cama, pegaram de novo na renda.

Como num prólogo, ou a dar-se coragem, o rapaz tossiu a raspar o gogo, escarrou para o lume, acariciou o cão que se lhe tinha deitado aos pés e, por fim, sem as encarar, gritou-lhes que dali em diante não contassem com ele para a lavoura.

Chamassem jeireiros, dessem as terras de meias ou deixassem-nas ao abandono, o que quisessem, ele é que não lhes voltava a tocar.

Nem nas bestas.

Nem no raio que partisse tudo.

A mãe e a prima podiam ir também, podiam ficar, como lhes desse na gana, ele é que não aguentava nem mais um dia; ficassem a saber que voltava para o Porto.

Ala que se faz tarde, nunca mais o apanhavam naquele estupor de buraco.




- J. RENTES DE CARVALHO, Ernestina, Ed. Escritor, Lx. 2001, p. 94.

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