Os seus olhos corriam os quatro pontos a estudar as paredes aéreas do cativeiro.
Duas cordas de penhascal, alterosas e brutas, com nozelhões de penedia solta, vinham desde a serra da Lapa serpenteando com o rio, alargavam-se diante do ermitério, dando lugar a uma balsa frutenegra, e difundiam-se em informes espinhaços para os lados de Vale de Ferreira.
A todo o pano do horizonte, só luzia rocha, ora compacta e escura como bronze, ora esparsa e furta-cores, pinhas e cactos de infernal flora.
Meia dúzia de árvores solitárias e esguedelhadas na pequena veiga, em frente, meia dúzia de casebres, que dali pareciam em sua traça cúbica e telha-vã esborrachados contra o solo, à beira de um caminho de cabras, e nesgas argênteas da água perfaziam a paisagem viva, fechada naquele caixilho de pesadelo.
O sol desprendera-se da névoa e sob a luz doirada, a todo o longo, a pedra negra, a pedra branca, a pedra verdete cantavam.
E era uma canção de lobos, corporizada, entre céu e terra.
- AQUILINO RIBEIRO,
O homem que matou o diabo, Bertrand, 1985, pp. 36-7.
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