INFÂNCIA
O vinho empurrava-os para a noite, para o
norte,
para a alquimia dos frutos ardidos.
E tu vinhas só, entre eles.
Soltando as labaredas pela aldeia dentro,
pela casa dentro.
Aldeias com abismos, com a ribeira ao fundo.
Em sobressalto,
ouvia os teus gritos.
Os cães ladravam muito alto e o
relâmpago sobre as rochas fulminava os
espelhos da noite.
Não dormia, não falava,
dobrado sobre mim mesmo como um feto,
como uma giesta quebrada pelo vento.
Podia ser dezembro
já que a geada e as laranjas se agarravam
à árvore.
JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA
Agora e na Hora da Nossa Morte
Assírio & Alvim
(1998)
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