MALO
Yo soy malo. ¿Recuerdas cuando Gina
me lo llamaba -
Malo-, no con esa
complicidad coqueta tras mi típica broma
cruel a costa de alguien, sino en serio
y con la gravedad de lo que es cierto
y muy triste (ya estábamos
a punto de dejarlo).
Es curioso: de niños somos malos
sin más; después ser malo
se llena de matices: eres cínico
(malo), rebelde (malo), contestón
(malo).
Llegas a adulto y las palabras
recuperan su antigua contundencia:
te miran con sorpresa y rebuscado
espanto y ¡
Tú eres malo!, dice alguien
resumiéndolo todo, tus traiciones
cotidianas, tus infidelidades,
tu vicio: causar daño.
Vicios: Bichos.
Ninguna casa está libre de bichos.
En cada grieta, bajo tu colchón.
Huyen de ti, te pican, te dan miedo.
Se alimentan de ti.
José Luis Piquero
Eu sou mau. Lembras-te quando Gina
mo chamava –
Mau - não com essa
cumplicidade coquete face à minha típica
brincadeira cruel à custa de alguém, mas a sério,
com a gravidade do que é certo
e muito triste (estávamos quase
a deixá-lo).
É curioso, em crianças somos maus
sem mais; depois, ser mau
carrega-se de matizes, és cínico
(mau), rebelde (mau), repontão
(mau).
Chegamos a adulto e as palavras
recuperam a sua antiga contundência,
olham-nos com surpresa e rebuscado
espanto e –
Tu és mau! diz alguém,
resumindo tudo, nossas traições
quotidianas, nossas infidelidades,
nosso vício: causar dano.
Vícios, bichos.
Nenhuma casa está livre de bichos.
Em cada fresta, debaixo do colchão,
fogem de nós, mordem-nos, metem-nos medo.
Alimentam-se de nós.
(Trad. A.M.)
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