26.1.10

Rui Pires Cabral (Nunca se sabe)






NUNCA SE SABE




Papéis velhos com poemas: são o joio
das gavetas. Relê-los causa aversão
e uma espécie de tristeza arrependida –
são tão nossos como as más recordações
e ainda vemos a circunstância precisa,
a causa, a ferida, por detrás de cada um.


Mas na altura havia esperança: é isso
que representam. Não pelas coisas que
dizem – é só descrença e fastio – mas
pela simples razão de termos querido
guardá-los. Com um pouco mais de alento,
de inspiração e trabalho, ainda se endireita
isto. Ou seja, os versos. E até a vida.



RUI PIRES CABRAL
Oráculos de Cabeceira
Averno, 2009



[Lugares Mal Situados]