16.1.10

Rafael Alberti (É preciso ser cego)







É PRECISO SER CEGO




É preciso ser cego,
ou ter os olhos cheios de vidro em pó,
cal viva,
areia fervente,
para não ver a luz que ressalta dos nossos actos,
que nos ilumina por dentro a língua,
nossa diária palavra.


É preciso querer morrer sem rasto de glória e alegria,
sem participar nos hinos futuros,
sem lembrança dos homens que julgarem
o passado sombrio da terra.


É preciso querer já em vida ser passado,
obstáculo sangrento,
coisa morta,
seco olvido.



RAFAEL ALBERTI
De un momento a otro
(1932-38)


(Trad. A.M.)

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