30.4.17

Eugenio Montejo (Escrita)





ESCRITURA                        



Alguna vez escribiré con piedras,
 midiendo cada una de mis frases
 por su peso, volumen, movimiento.
 Estoy cansado de palabras.

No más lápiz: andamios, teodolitos,
 la desnudez solar del sentimiento
 tatuando en lo profundo de las rocas
 su música secreta.

Dibujaré con líneas de guijarros
 mi nombre, la historia de mi casa
 y la memoria de aquel río
 que va pasando siempre y se demora
 entre mis venas como sabio arquitecto.

Con piedra viva escribiré mi canto
 en arcos, puentes, dólmenes, columnas,
 frente a la soledad del horizonte,
 como un mapa que se abra ante los ojos
 de los viajeros que no regresan nunca.

Eugenio Montejo




Um dia escreverei com pedras,
medindo cada frase
por seu peso, volume, movimento.
Estou cansado de palavras.

Lápis não, andaimes, teodolitos,
a nudez solar do sentimento
tatuando no fundo das rochas
sua música secreta.

Com seixos escreverei
meu nome, a história de  minha casa
e a memória daquele rio
que vai passando sempre e se demora,
sábio arquitecto, nas minhas veias.

Com pedra viva escreverei meu canto
em arcos, pontes, colunas,
frente à solidão do horizonte,
como um mapa a abrir-se ante os olhos
dos viajeiros que não regressam nunca.


(Trad. A.M.)

.