7.4.17

Chantal Maillard (E todavia)





SIN EMBARGO



Sin embargo,
sin embargo,
sin embargo… No me
fío de mí. Nada es
permanente. Menos
lo es la palabra. Esto
tampoco,
esto tampoco,
esto tampoco. No me fío,
no te fíes de quien
dice, de quien
habla, de lo que se
dice, de lo que dices,
de lo que digo,
no me fíes,
no te fío.
La lucidez es una chispa, un
estado de conciencia
en las multiplicadas estancias
de la conciencia o que hacen
conciencia, las estancias
que se alargan, se prolongan, se
continúan, y así
se le llama conciencia
a aquella continuidad.
No me fío, no te
fíes de las estancias,
se estrechan,
se acortan,
se invaden,
desaparecen,
la lucidez es un instante
entre estancias,
ventanas en la mónada que
si permanece bajo
la luz del foco se hace estancia,
también ella, y sufre
las mismas convulsiones.
Sin embargo,
sin embargo,
sin embargo… lo
que intuyo ahora
se borrará mañana,
luego,
ahora,
apenas se haga pensamiento,
conciencia: estancia. Atrapamos
la sensación que invade las entrañas,
muy abajo,
muy adentro,
muy homogénea, la atrapamos
y la hacemos eso: “sensación”,
la nombramos,
la describimos… la perdemos. Ya
no es ella, ya no es eso, ya no es.
Aún está allí pero
no es lo que digo,
lo es apenas,
no es lo que oís,
no es eso, no
os fiéis,
no me fíes,
no te fío.

De nuevo cae la tarde,
mengua la luz.
Los colores del otoño vienen del oeste,
decía aquel poeta chino.
El mundo está en mí.
No me apartaré.
Acojo todos los colores, el
estío dentro de mi otoño,
porque sé que no
hay fin, que no habrá término.
Todo comienza y termina en mí.
Yo soy el infinito proyecto de mí misma
por encima de mí
me sobrevuelo.


Chantal Maillard






E todavia,
e todavia, 
e todavia... Não me
fio de mim, nada é
permanente, muito menos
a palavra, isto
tão pouco,
isto tão pouco. Não me fio,
não te fies de quem
diz, de quem
fala, do que se
diz, do que dizes,
do que digo, 
não te me fies,
não me te fio.
A lucidez é uma chispa, um
estado de consciência 
nas variadas estâncias
da consciência ou que fazem
a consciência, estâncias 
que se alongam, e prolongam, e
continuam, daí se chamar
consciência essa continuidade.
Não me fio, não te
fies das estâncias,
que se estreitam,
se encurtam,
se invadem,
desaparecem,
a lucidez é um instante 
entre instâncias,
janelas na mónada que
permanecendo sob a luz do foco
se faz estância,
também ela, sofrendo
as mesmas convulsões.
E todavia,
e todavia,
e todavia... O que
eu intuo agora
vai apagar-se amanhã,
depois, 
agora mesmo,
mal se faça pensamento,
consciência: estância. Agarramos
a sensação que nos invade as entranhas,
lá muito fundo,
muito dentro,
muito homogénea, agarramo-la
fazendo-a nisso, 'sensação',
nomeamo-la, descrevemo-la
e a seguir perdemo-la. Já
não é ela, já não é aquilo, já não é.
Ainda está lá, mas
mas não é o que eu digo,
quase não é,
não é o que vós ouvis,
não é isso, não
vos fieis,
não me te fies,
não te me fio.

De novo cai a tarde,
minga a luz.
As cores do Outono é do poente que vêm,
dizia aquele poeta chinês.
O mundo está em mim,
não me aparto,
acolho as cores todas, o
estio por dentro do meu outono,
porque sei que não
há fim, não haverá termo.
Tudo começa e termina em mim,
eu sou o infinito projecto de mim mesma,
por cima de mim própria
me sobrevoo.

(Trad. A.M.)


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