26.4.17

Enrique García-Máiquez (O leitor é um fingidor)





EL LECTOR ES UN FINGIDOR




Cuento mi vida pero lees la tuya.
Nombro un paisaje de mi infancia y tú visitas
-tramposo- aquel camino de arena hacia la playa
por donde corre un niño feliz, que no soy yo.

Actúas siempre así, lo sé por experiencia.
¿Qué importa que yo tenga un nombre propio?
Tú lo expropias. Si hablo de mi pueblo,
es tu ciudad. Se transfigura en álamo
el pino de mi casa. Mis amigos
son mis desconocidos de repente.
Y hasta mi amada es ya tu amada.

Yo cuento sílabas, tú cantas, silbas
poniendo música a mis letras, musicando
al ritmo que te gusta.
De todo cuanto digo escuchas sólo
lo que a ti te interesa, quizá lo que no dije,
sin que haya forma así de no entendernos.

Te entiendes y me entiendo, porque al pasar la página
vuelves mis versos del revés, reversos
tuyos. Debí de sospechar
de ti, que no te ocultas,
que robas a la luz amable de una lámpara.

Yo soy el que me oculto. Cuando escribo,
tú vives y eso es todo. Como te dijo Bécquer:
Poesía eres tú.
Y yo el poema.

Enrique García-Máiquez




Eu conto a minha vida, mas tu lês a tua.
Falo duma paisagem da infância e tu visitas
– enganoso – o caminho de areia para a praia
por onde corre um menino feliz, que não sou eu.

Fazes sempre o mesmo, sei por experiência.
Que importa que eu tenha nome próprio?
Tu mo roubas. Se falo da minha terra,
é a tua cidade. Transfigura-se em álamo
o pinheiro da minha casa. Os meus amigos,
de repente, são os meus desconhecidos.
E até a minha amada já é a tua amada.

Eu conto as sílabas, tu cantas, assobias,
musicando as minhas letras,
compondo ao ritmo que te apetece.
De tudo quanto digo ouves só
aquilo que te interessa, talvez o que eu não disse,
sem modo de nos entendermos.

Tu entendes-te e eu também, porque ao voltar a página
viras-me os versos do avesso, reversos teus.
Eu devia desconfiar de ti, que não te escondes
e me roubas mesmo à luz do dia.

Eu é que me escondo. Enquanto escrevo,
tu vives e mais nada. Como te disse Bécquer:
Poesia és tu.
E eu sou o poema.


(Trad. A.M.)

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