A ÁRVORE DAS RAÍZES
a minha infância tem uma árvore
assombrosa. é uma bela história de amor
entre as nossas mãos pequeninas
e aqueles seus braços enormes, bravos e
loucos como o riso das mães,
que faziam abrandar o medo e a tarde.
oito, nove, dez: virávamo-nos à procura dos outros
pelo labirinto de grutas cavado nas raízes,
ao abrigo do vento e da solidão que não tardaria
a descobrir o nosso esconderijo.
ao parar, há dias, na "Deslocação do Labirinto",
imaginei que talvez Vieira da Silva
tivesse sonhado a minha árvore.
ou vice-versa. dois seres mágicos do mesmo elemento
engendrando-se um ao outro nas raízes do mundo:
azuis e verdes com riscos ferozes
onde a vista se afunda para depois
nos libertar. assim é, entre o céu da memória
e a erva húmida destes dias,
a árvore da minha infância.
RENATA CORREIA BOTELHO
Small Song
Averno (2010)
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