20.12.11

Fialho de Almeida (O plaino líquido)






Para qualquer lado que se olhava, o mar não tinha termo; o céu ia coberto duma bostela de nuvens cor de chumbo, mosqueada de fulvo, que se fora erguendo duma banda, erguendo, té descobrir sobre a linha do mar uma fímbria de alva muito pálida, por onde a luz começou a esclarecer de manso o plaino líquido.

E esse plaino amainava e começara a perder os vagalhões...

Sobre as águas se erguia, à maneira de torre, um grande ilhéu bronco e tisnado.

Era uma massa de fortins dentada toda em roda, por cima de cuja plataforma outras moles gigantes se aprumavam.

E havia pórticos, recantos, pátios, levadiças: a ressaca bramia nos recôncavos da rocha babujenta; por cima as nuvens galopavam, embebendo os goelanos e os corvos marinhos no seu chorume glácido e mortal.


- FIALHO DE ALMEIDA, O País das Uvas (O corvo).

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