- Olha que engraçado, o Tiago desta vez arranjou uma proletária.
É verdade que estava reagindo a uma provocação, porque era uma conversa sobre política e eu tinha proclamado: se alguma vez eu votar num partido da direita podem mandar internar-me no dia seguinte.
Gosto da Filomena e a Filomena gosta de mim, um amor silencioso porque pouco falamos uma com a outra.
Mas no dia em que nos conhecemos, confesso que fiquei irritadiça com a boca da proletária e por isso atirei-lhe logo: não te preocupes, estou de passagem – foi no meio das confusões do Tiago com a Zu e todo aquele mundo da família Alves me parecia estranho.
A Filomena, que estava sentada num sofá ao meu lado, encostou-se a mim, deu-me um pequeno abraço e depois um beijo e disse: deixa lá, estamos todos de passagem.
PAULO CASTILHO
Domínio Público
(2011)
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