18.3.16
Paulo Castilho (Dívida de avé-marias)
Meia-noite, hora fatal do crime, onde é que eu li isso?
Mas não me ocorre um crime que me apeteça cometer.
Posso sempre, como dizia o outro, cometer um pouco de prosa.
Terraplanagens, por exemplo.
Sento-me em frente ao computador.
Ora isto eram quinze páginas por dia, mais cinco adicionais todos os dias para recuperar os atrasos acumulados ao longo das semanas.
Quando eu tinha religião, rezava, depois de me deitar, vinte avé-marias.
Na maior parte das noites adormecia no meio e as avé-marias em falta acumulavam-se para o dia seguinte, acrescidas de uma penalidade de cinco.
Quando cheguei aos dezasseis anos a dívida de avé-marias era maior que o défice público e, para me livrar do encargo, não tive outra solução senão deixar de acreditar em Deus.
PAULO CASTILHO
Domínio Público
(2011)
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