É um sítio para contemplativos e poetas: qualquer fio de água lhes chega e os encanta.
É um sítio para sonhadores e para os que gostam de se aventurar sobre quatro tábuas, descobrindo motivos imprevistos.
É-o para os que se apaixonam pelo mar profundo, e para os medrosos que só se arriscam num palmo de água – porque a ria é lago e mar ao mesmo tempo.
Com meios muito simples, um saleiro e uma barraca, tem-se uma casa para todo o Verão.
Pesca-se.
Sonha-se.
Toma-se banho.
E esquece-se a vida prática e mesquinha.
Dorme-se ao largo, deitando-se a fateixa ou abica-se ao areal: um fogaréu, uma vara, a caldeirada...
Começam a luzir no céu e na ria ao mesmo tempo miríades de estrelas.
Vida livre dalguns dias, de que fica um resíduo de beleza que nunca mais se extingue.
- RAUL BRANDÃO,
Os Pescadores.
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