6.11.13

Carlos Salem (Nós não)





NOSOTROS, NO



Nos enseñaron a sentir en dirección obligatoria
y nos llenaron la vida de semáforos.

Nos dijeron lo que se debe y lo que no
y que siempre quedaríamos debiendo.

Nos firmaron cheques en blanco
con tinta blanca
y esperaron a que les diéramos las gracias.

Nos rogaron que gritáramos sin ruido
amáramos sin furia
muriéramos sin asco
viviéramos sin ganas.

Nos olvidaron.

Nos prometieron el cielo en la tierra
y un paraíso con vídeo-vigilancia.

Nos invirtieron la esperanza a plazo fijo
y cambiamos los deseos por bonos del estado.

Nos vendieron motos
democracias
y consolas
y canciones del verano en pleno otoño.

Nos tiraron del pelo.
Nos cortaron el pelo.
Nos tomaron el pelo.
Y nos salvamos
a veces
por los pelos.

Nos olvidaron.

Nos juzgaron por pensar sin lubricante
Nos condenaron a sentir en látex
Nos metieron en jaulas decoradas
con los rostros de nuestros ídolos muertos.

Y cuando se quedaron sin presupuesto
para pagar las facturas de la cárcel
nos soltaron.

Y nos olvidaron.

Pero nosotros
a ellos
no.

Me temo
que no tendrán tiempo
de arrepentirse.

Carlos Salem



Ensinaram-nos a sentir em direcção obrigatória
e encheram-nos a vida de semáforos.

Disseram-nos o que se deve e o que não
e o que sempre ficaríamos a dever.

Assinaram-nos cheques em branco com tinta branca
à espera que agradecêssemos.

Pediram-nos que gritássemos sem barulho
amássemos sem fúria
morrêssemos sem asco
vivêssemos sem vontade.

Esqueceram-nos.

Prometeram-nos o céu na terra
e um paraíso com video-vigilância.

Investiram-nos a esperança a prazo fixo
trocando-nos desejos por títulos do Estado.

Venderam-nos motos
democracias
e consolas
e canções de Verão em pleno Outono.

Puxaram-nos pelo cabelo.
Cortaram-nos o cabelo.
Tomaram-nos o cabelo.
E salvámo-nos
às vezes
por um cabelo.

Esqueceram-nos.

Julgaram-nos por pensar sem lubrificação
Condenara-nos a sentir em látex
Meteram-nos em jaulas decoradas
com as caras de nossos mortos ídolos.~

E quando ficaram sem orçamento
para pagar as facturas da prisão
soltaram-nos.

E esqueceram-nos.

Mas nós
a eles
não.

Receio
que não terão tempo
de arrepender-se.

(Trad. A.M.)



>>  El huevo isquierdo del talento (blogue/muitos p) / Carlos Salem (outro) / Matar y guardar la ropa (outro antes) / Wikipedia

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