12.4.13
João Araújo Correia (Um intrujão de marca)
Sei que o meu companheiro era um intrujão de marca.
Logo que viu o primeiro ramo de loureiro em cima de uma porta, atirou-se ao chão, ganindo como cachorro que leva calhoada.
- Que é que tu tens, ó Felizardo?
- É a dor! Só me passa com aguardente.
Olhou para o ramo de loureiro, eu olhei também, e resolvi matar-lhe, salvo seja, o bicho que lhe roía o bucho.
Dos quinze tostões que minha mãe me tinha dado, gastei um pataco em aguardente, mas curei o rapaz e fiz boa figura.
Mais adiante, cena parecida.
O bucho do rapaz, isto é, a dor, cobiçou vinho, sardinha frita e um bolo de trigo de duas cabeças.
Fiz-lhe a vontade.
Toca a andar...
Com mais algumas paragens, foram-se-me embora os quinze tostões.
Também se foi de vez a dor do Felizardo.
- JOÃO ARAÚJO CORREIA, Cinza do Lar (Dia de Natal).
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