ESPERO SUSPEITO TEMO QUERIA
Espero que não olhe para mim
que não me veja.
Suspeito que está sempre,
nunca falha,
que me catalogou,
que não há escapatória.
Temo que me ameace,
que me ralhe,
me castigue,
ou que me espie
e me siga.
Enfadam-me os mistérios,
os oráculos,
os enigmas
os dons,
os privilégios,
os êxtases.
As cerimónias inquietam-me
- o culto,
a nuvem sagrada.
E queria senti-lo e vê-lo,
falar-lhe, entendê-lo
servi-lo como um homem
sempre.
Queria que me tomasse de vez
ou me transformasse em folha,
numa coisa pura, estúpida,
em pedra ou água,
ar, pinta, átomo,
de seu reino total.
Quero amor ou sossego.
Pere Quart
(Trad. A.M.)
.