MADRUGADA
Acordaste de súbito. É Novembro. Dormiste
mal, de noite. E agora, aturdido, procuras
na mesa de cabeceira tabaco e lume,
às apalpadelas. Acendes um cigarro e olhas
para o relógio. Está frio no hotel. A alba
não vem ainda. Estás cansado. Chove.
E aqui, no escuro desagradável
deste quarto alugado, muito a sós
contigo mesmo, pensas na tua vida: nos anos
da juventude, no tempo
presente, tão vazio, e nesse não mais feliz
que porventura há-de vir.
O quarto
de um hotel pode às vezes levar quem nele,
acordado, se hospeda a pensar em certas coisas
inoportunas, tristes.
Chove com força. É noite
ainda. Estás só. Fumas outra vez. Pensas.
E tens muito frio. E não amanhece.
Eloy Sánchez Rosillo
(Trad. A.M.)
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