15.2.12
Aquilino Ribeiro (A malha-2)
Bafoeiradas da aragem traziam pelos ares a moinha dos centeios padejados e o rescendor da macela e da labaça que ressequiram nos campos gadanhados.
Cortavam o céu alto bandos de pombos bravos e, descuidosas, mondando o grão caído da espiga gorda, cantavam na terra das searas a perdiz e a corcolher.
Já as cerejas tinham bichos e a cigarra emudecia longas horas, quebrantada de tanto zangarrear.
As manhãs, até toarem os manguais, eram dum silêncio que se sentia do mais pequeno tropel de tamancos estreloiçando nas ruas.
Ainda o sol, furando às espaldas dos montes do Carregal, não se livrava – é um modo de dizer – duma pedra bem mandada, já a eira estava a postos.
De chapelão de grande sombra, saiote vermelho e colete de atacadores, mulheres ajeitavam as cuanhas e estendiam mantas a toda a roda para caçar o grão respingueiro.
Outras preparavam a eirada com desatar os molhos e espalhar a palha em carreiras, tendo o cuidado de deixar as espigas bem ao léu, para que se embebedassem de sol – o sol que as criara e agora ajudava os manguais a enxotar o grão para fora de seus casulos.
E tão breve a palha aquecia, se punham em fila os malhadores.
- AQUILINO RIBEIRO, Terras do Demo, 1.ª parte, II.
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