Manhã cedo, mal o sol, bravio que nem enxame de abelhas alvoriçado, pulava detrás dos montes, goela forte bradava do alto pináculo da meda: à eira-aaa-aa-a!
Aquilo ouvia-se em grande raio pelo povo e suas abas, como os sinos de Toledo.
E logo de cada canto rompiam os malhadores, lépidos e pontuais como quem acode a um toque de guerra.
Calça branca de estopa, para gargantilha um lenço de mulher, esfraldado sobre os ombros por mor de paraganas, sol e moscas, irmãos danados a ferrar, a grenha das pomas a espirrar dos bofes da camisa, uns após outros, enchiam os caminhos dormentes que levam às eiras.
Todos descalços – que nem carne de Ferrabrás aturava pés calçados de sol a sol, na trabuzana – apenas se ouviam suas vozes marulhar ásperas na corrente remansosa da madrugada.
- AQUILINO RIBEIRO,
Terras do Demo, 1.ª parte, II.
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