2.2.12
Albano Martins (Ânfora)
ÂNFORA
Regressas às vezes, quando é noite, ao lugar
onde sempre te demoras.
Levas ao ombro uma ânfora a que sorveste os
sumos dia-a-dia nela derramados: água e vinho,
o leite das amoras e dos figos, o licor almiscarado
das cerejas e das ginjas. E a sede, essa substância
de todas a mais viva.
Queres agora encher novamente o vaso.
A água e o vinho secaram na haste e na fonte,
a ânfora está quebrada e os dedos já não seguram
sequer os cacos que apenas sobrevivem.
Albano Martins
[Sons da Escrita]
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